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Falar sobre ser idoso

À medida que os familiares vão envelhecendo começa a ser cada vez mais frequente a tomada de decisões por eles ou para a sua segurança e conforto.  Nem sempre é fácil abordar este tema com os próprios antes de chegarem a essa fase, já que muitas vezes falar sobre isso é reconhecer a fragilidade, vulnerabilidade e dependência que está para vir.

Esta é uma conversa contínua que um dia começa, mas não tem fim à vista. Mas é um passo essencial para fortalecer a ligação familiar e debater expectativas, medos, preocupações e escolhas futuras que afetam quer a vida dos idosos quer dos seus familiares.

Estas conversas devem ser mantidas no âmbito familiar e possibilitam uma forma de ampliar a compreensão mútua, é por isso extremamente importante que todos os elementos do agregado familiar participem nas conversas para minimizar o desenvolvimento de conflitos ou mal-entendidos, mais tarde.

Estes debates não serão fáceis e, por vezes, irão tocar em pontos sensíveis no seio da família, por isso é melhor ir pelo caminho mais difícil no início, enquanto se está no estado de não crise e quando é mais fácil tomar decisões. 

Será melhor dar o tempo necessário para avaliar, analisar e processar adequadamente todas as opções, para que, se e quando ocorrer uma crise, a energia seja aplicada a apoiar o familiar e não ter que ter a angústia das escolhas ou de tentar gerir a discórdia familiar.

Poderá ser útil abordar estas conversas sob uma perspetiva de quatro ângulos: ligação familiar, envelhecimento, eventos e os detalhes. Poderá ter que ser necessário fazer múltiplas conversas para abordar todo estes fatores, mas será importante ter uma visão o mais completa possível das expectativas e anseios com a velhice que o familiar tem.

Ligação familiar

Conheça melhor os seus familiares idosos, mas de uma outra forma. Como é que eles lidaram com outros idosos na família antes deles. Alguns exemplos de perguntas que se podem fazer são:

  • Peça para que partilhem algumas memórias dos tempos que passaram com os pais e os avós
  • Quando saíram da casa dos pais e como foi o processo? Continuaram a estar em contacto e ligados? Como é que eles deram apoio?
  • O que é o que mais admiram nos pais?
  • Os pais participaram na vida escolar? Como?
  • Os pais influenciaram as suas escolhas profissionais e/ou familiares?
  • Os pais participaram nas atividades fora da escola? Como?
  • Como é que a vida profissional e as responsabilidades dos pais influenciaram a sua relação com eles?
  • Sentiam-se próximos dos seus pais? dos avós? Eram todos próximos uns dos outros?

Envelhecimento

O objetivo aqui é perceber qual foi a vivência ou a experiência que os familiares idosos tiveram ao cuidar de outros familiares idosos antes deles.

Algumas das perguntas que podem ajudar a conduzir as conversas são:

  • Os pais ou outro parente idoso tiveram algum problema de saúde?
  • Como ficou a saber dos problemas de saúde deles?  Foi chamado ou calhou ficar no papel de prestador de cuidados?
  • Os assuntos pessoais de saúde e financeiros dos pais foram discutidos com eles ou mantidos em segredo? Como é que esta dinâmica foi gerida?
  • Os pais incluíram-nos nos assuntos financeiros de uma forma formal?
  • Como foi feito o trabalho em conjunto com os irmãos em relação aos cuidados e apoio dos próprios pais?
  • Sentiram-se competentes no seu papel de prestador de cuidados? O que desejavam que tivesse sido ou é diferente agora?

Eventos

Facilitar a compreensão sobre as perceções e pensamentos dos familiares idosos sobre acontecimentos relacionados com a idade e qual a sua opinião sobre como estes eventos foram geridos. Este processo ajuda a desencadear uma conversa sobre situações específicas relacionadas com a idade e a velhice utilizando exemplos externos.

Pode usar-se casos vistos na televisão numa série, nas notícias, num livro ou filme para iniciar a conversa. Podem também usar-se exemplos práticos e reais de outros membros da família, amigos ou vizinhos que passaram por uma crise ou situação mais complicada relacionada com a velhice como uma hospitalização, o diagnóstico de uma doença, a ida para um lar ou o aparecimento de uma doença cognitiva degenerativa relacionada com a idade como o Alzheimer. É importante perguntar qual é a perspetiva e a opinião do familiar sobre estes eventos.

Algumas perguntas que podem ser usadas:

  • Como souberam da situação?
  • Qual foi a sua reação instintiva?
  • Conhecem alguém que tenha estado nesta situação? Como é que a situação se desenrolou?
  • Concordam com as decisões que foram tomadas? O que teriam feito de diferente?

Os detalhes

Este ângulo serve para compreender melhor quais são as expectativas que o parente idoso tem sobre o apoio e assistência que pode receber dos familiares em situações específicas.

Depois de já ter sido feito um caminho anterior com as conversas nos outros ângulos, para criar um maior à vontade para falar sobre este assunto, esta é a altura para introduzir propostas de escolhas possíveis de cuidados a ter no futuro. Escolhas financeiras, de possíveis tratamentos ou pessoais que diretamente afetam o familiar idoso.

É importante estimular conversas que foquem as questões financeiras e legais e se necessário, pedir a opinião de profissionais para obter mais informação sobre estas questões. Podem debater-se todas as questões relacionadas com a habitação, tratamentos médicos, apoio domiciliário e como esperam que sejam apoiados pelos familiares. Para evitar desconfiança e discórdia, o ideal seria ter as conversas no seio da família com todos os elementos presentes.

Se houver resistência por parte do idoso para abordar estas questões, podem ser dadas justificações que asseguram o respeito e o amor pelo familiar idoso, no sentido que de as conversas servirão para evitar tomar decisões erradas no futuro ou para assegurar que todo o apoio será dado da melhor forma possível.

Conclusão

Não é possível prever todas as situações, boas ou más que vão acontecer no futuro e à medida que vamos envelhecendo. Quanto maior a proatividade e completas as conversas com os familiares que estão a envelhecer, mais forte será a ligação a eles e melhor a preparação para os apoiar quando chegar a hora. É melhor ter um plano do que apostar na improvisação, conhecendo melhor os familiares e sabendo de antemão qual o apoio que vão querer na grande idade.

*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.

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