O isolamento social e a solidão são situações que causam um grande impacto na saúde dos idosos, e podem ter um efeito dramático na saúde mental, no bem-estar físico e na qualidade de vida a longo prazo.
Por outro lado, permanecer ligado e manter as vias de comunicação abertas com os outros pode ter alguns benefícios importantes para a saúde e para a vida dos idosos.
Alguns estudos demonstraram que os idosos que comunicam regularmente com outras pessoas da sua família ou da sua comunidade são geralmente mais saudáveis e felizes.
Experimentam taxas mais baixas de doenças crónicas, menos ansiedade e depressão, melhor saúde cognitiva, mobilidade melhorada, e até uma maior longevidade.
Mas a comunicação não envolve só o falar, compreende também o toque, o olhar e muitas vezes até o silêncio.
A forma como se comunica envolve fatores tão diversos como a inteligência, perceção, as emoções, o ambiente, a educação e o estatuto social, não só de quem envia a comunicação como de quem a recebe.
Nos cuidados dos idosos, o estabelecimento de uma boa comunicação é importante para que possam atingir um estado de bem-estar físico e psicológico.
Os idosos gostam de conversar e sentem que um contacto mais direto com a pessoa que cuida deles é muito importante para eles e para os próprios cuidadores.
Tipos de comunicação com o idoso
A comunicação com os idosos exige uma abordagem diferente da comunicação em geral, tendo sempre em conta a especificidade da situação de cada idoso.
Estar presente
Estar presente de forma pessoal pode fazer uma enorme diferença para a saúde e bem-estar de um idoso.
O contacto pessoa-a-pessoa pode ajudar a desencadear partes do sistema nervoso para libertar um conjunto de neurotransmissores, incluindo dopamina, que ajudam a gerir o stress e a ansiedade.
Tal como uma vacina, uma simples interação pessoal pode ter efeitos a longo prazo, uma vez que aumenta o nível de confiança e diminui os níveis de cortisol, diminuindo assim o stress.
Com o tempo, a redução destes níveis nocivos de stress pode ajudar a mitigar fatores de risco que podem afetar negativamente as artérias coronárias, a função intestinal, a regulação da insulina e o sistema imunitário.
Os efeitos benéficos para a vida do apoio social estendem-se tanto para quem dá como para quem recebe.
Partilha de Refeições
Num estudo, 85% dos idosos disseram que ter alguém com quem partilhar as suas refeições torna as mesmas uma experiência mais satisfatória. 88% afirmaram que uma conversa estimulante é um dos maiores benefícios de partilhar uma refeição com a família e amigos.
Muitos idosos disseram que comer juntos torna a comida mais saborosa, e algumas pesquisas importantes sugerem que eles levam mais tempo a comer e a fazer escolhas mais saudáveis quando comem com companhia, em comparação com quando comem sozinhos.
Manter a comunicação mesmo à distância
Quando não se pode estar presente pessoalmente, a comunicação à distância pode ser uma boa alternativa.
Os idosos que utilizam aplicações de vídeo, tais como Skype e Face Time, têm metade da probabilidade estimada de sintomas depressivos.
Por outro lado, escrever cartas pode ter benefícios terapêuticos significativos, podendo ajudar a melhorar o humor, reduzir o stress e melhorar a sensação geral de bem-estar.
Qual a melhor forma de comunicar com o idoso
O mais importante na comunicação com o idoso é ajudar a garantir que este possa desfrutar dos efeitos positivos de uma comunicação significativa e saudável com os amigos, a família e os seus cuidadores.
A comunicação no cuidar do idoso deve ter em atenção vários fatores importantes:
- Exibir paciência ao comunicar
- Manter as mensagens curtas, simples e diretas
- Manter uma escuta ativa e interpretar a comunicação verbal e não verbal
- Utilizar gestos não verbais para complementar a mensagem verbal
- Resumir e repetir pontos-chave quando necessário
- Não contestar crenças ou discutir com os idosos
A empatia é uma parte muito importante na comunicação do cuidar do idoso, mas existem também outras considerações a ter em conta:
Criar tempo para estar completamente presente
Simplesmente estar presente com o idoso o mais frequentemente possível, traz muitos benefícios.
Quando isto não é possível é essencial encontrar alternativas como falar ao telefone, e-mail, ou conversas em vídeo.
É importante estar realmente presente, por isso não pode haver telefonemas a interromper ou outras distrações.
Tornar a comunicação tão fácil quanto possível
A comunicação é muitas vezes mais fácil de dizer do que de fazer. Pode ser necessário adotar uma estratégia para comunicar com o idoso, particularmente se tiver necessidades de saúde que possam tornar a comunicação mais difícil, como a perda de audição ou a demência.
Uma estratégia que pode ajudar é minimizar as distrações. Desligar a televisão ou rádio, garantir que o quarto está calmo e bem iluminado, dar atenção e falar clara e diretamente.
Usar detalhes específicos para evitar confusões, e tentar usar declarações afirmativas sempre que possível. O mais importante é a paciência, compreensão e compaixão.
É importante também dar tempo ao idoso para ouvir, processar, e responder ao que lhe está a ser comunicado.
O idoso dever ser sempre tratado com respeito, pelo nome e de forma a evitar argumentos ou discussões. Algumas formas de minimizar a tensão pode ser através de ações como, pedir em vez de assumir, pedir em vez de ordenar, e oferecer escolhas sempre que possível.
Praticar a escuta ativa
A escuta ativa deve ser sempre implementada, ou seja, deve-se estar recetivo e aberto a ouvir o que o idoso tem a dizer, mantendo o contacto visual e com concentração na linguagem corporal que mostra recetividade para o que está a ser dito.
Prestar também atenção à linguagem corporal, para identificar sinais físicos de quando estão stressados ou cansados, por exemplo.
Usar linguagem afirmativa, e repetir o que o idoso disse para mostrar que está a ouvir, usar o toque físico para fortalecer a comunicação, como uma mão sobre um ombro, por exemplo, podem ser gestos calorosos que demonstram conforto e respeito.
Encontrar Formas Criativas para comunicar
Há muitas formas criativas de abrir vias de comunicação com os idosos. Por exemplo, ouvir música em conjunto, ver álbuns de fotografias ou álbuns de recortes ou jogar um jogo.
Todas estas estratégias podem ajudar o idoso a sentir-me mais confortável para comunicar livremente. Quando se está a colaborar e a trabalhar em equipa, pode ser muito mais fácil fomentar pequenas conversas.
Compensar as dificuldades auditivas
A perda de audição relacionada com a idade é frequente. Cerca de um quarto das pessoas com idades compreendidas entre os 65 e os 75 anos, e metade das pessoas com mais de 75 anos têm perda de audição incapacitante.
Ao comunicar com o idoso é necessário fazer ajustes à comunicação para colmatar qualquer dificuldade auditiva.
Convém verificar qual a capacidade de audição do idoso, ou se este tem algum aparelho auditivo.
Falar lenta e claramente num tom normal é a melhor opção. Gritar ou falar com uma voz elevada distorce os sons da língua e pode dar a impressão de raiva.
Evitar usar uma voz aguda porque é difícil de ouvir e encarar a pessoa diretamente, ao nível dos olhos, para que possa ler os lábios ou captar pistas visuais.
Manter as mãos longe do rosto enquanto se fala, pois pode dificultar a capacidade de leitura dos lábios. Os ruídos de fundo, como computadores e outros equipamentos podem abafar o que está a ser dito.
Manter um bloco de notas à mão para escrever o que está a ser dito. Informar quando se muda de assunto. Fazer pausas breves, falar um pouco mais alto, gesticular, tocar suavemente ou fazer perguntas.
Compensar as dificuldades visuais
Os distúrbios visuais aumentam à medida que as pessoas envelhecem, o que implica a utilização de algumas estratégias para melhorar a comunicação.
Certificar que existe iluminação adequada, incluindo luz suficiente no rosto de quem fala. Verificar se o idoso usa ou necessita de óculos.
Quando há dificuldades de leitura, deve-se considerar alternativas tais como instruções gravadas, utilização de imagens ou diagramas grandes, ou utilização de ajudas, tais como caixas de comprimidos especialmente configuradas.
Conclusão
Muitas pessoas idosas têm dificuldades com a audição, leitura, escrita e capacidades de comunicação em geral. Os idosos necessitam de formas diferentes de comunicar verbalmente e não verbalmente.
É importante compreender que à medida que as pessoas envelhecem, tornam-se frequentemente mais difíceis de compreender e as mudanças no seu ambiente podem influenciar a sua comunicação.
Deve-se comunicar de forma lenta, mantendo o contacto visual e falando de forma calara e direta.
Embora a comunicação com os idosos possa por vezes ser demorada deve-se manter a ligação e mante-los envolvidos numa conversa ajuda-os a compreender melhor os outros e o que os rodeia, fortalece a sua relação aos outros e dá-lhes confiança.
Os aspetos positivos de uma boa comunicação estão presentes em todos os ambientes sociais e dominá-los irá ajudar os idosos a transmitir as suas mensagens de forma mais eficaz.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referencias:
- Instituto de Ciências Abel Salazar
- National Institute on Aging
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.