Graças aos avanços nos cuidados médicos e na saúde pública, a população tende a viver mais tempo.
Atualmente há muitas pessoas com mais de 65 anos e uma boa parte com mais de 80 anos, e estes números deverão duplicar ao longo dos próximos 20 anos.
Esta crescente população idosa é um dos maiores desafios que os sistemas de saúde enfrentam atualmente.
As pessoas idosas estão a ser hospitalizadas em número cada vez maior, colocando uma pressão crescente sobre um serviço já sobrecarregado que enfrenta desafios cada vez mais maiores.
Numa situação de emergência, tal como uma queda ou doença súbita, os médicos podem recomendar que uma pessoa idosa frágil seja admitida no hospital.
Mas há a preocupação de que esta solução possa não proporcionar o tipo certo de cuidados de que o idoso necessita.
Fica a questão: será que o hospital é realmente o melhor lugar para estes casos, ou seria melhor os idosos irem para casa e serem atendidos por uma equipa especializada?
Não só o número de idosos na população está a aumentar, como também têm necessidades de saúde bastante complexas, incluindo a fragilidade física, diminuição da capacidade mental, ou declínio cognitivo e demência, para além de outras condições de saúde a longo prazo, como as doenças crónicas.
Hoje em dia, quase dois terços das pessoas internadas no hospital têm mais de 65 anos de idade e um número cada vez mais crescente é frágil ou tem demência.
Ao mesmo tempo, há menos camas hospitalares de emergência do que há vários anos atrás. O ritmo das admissões no hospital dos idosos não acompanha a organização e a logística hospitalar, apesar de estas admissões aumentarem a uma taxa de 2 a 3% por ano.
Uma forma de lidar com este problema é reduzir o tempo que as pessoas permanecem no hospital, o que não tende a acontecer.
Muitas vezes os idosos são mesmo deixados no hospital mais tempo do que o necessário, por falta de capacidade ou de condições para irem para casa.
Resolver esta questão é um grande desafio para os sistemas de saúde e para as pessoas, no sentido de tornar possível o acesso aos melhores cuidados de saúde ao maior número de pessoas, com dignidade, respeito e compaixão.
O aumento da esperança média de vida, devido à melhoria das condições de higiene e dos cuidados de saúde, aliados ao envelhecimento da população e ao aumento da prevalência das doenças crónicas, são fatores que contribuem para a sobrelotação dos serviços de urgência e à necessidade crescente do número de camas hospitalares.
Uma das soluções é a hospitalização domiciliária, que permite uma opção de qualidade, eficaz e em segurança para os idosos.
A maioria dos idosos tende a recuperar muito mais rapidamente se lhes for permitido ficar nas suas casas quando possível.
Quer se trate de uma cirurgia recente ou mesmo de um trauma psicológico, estar em casa com acesso ilimitado aos entes queridos oferece ao idoso a melhor oportunidade para uma recuperação completa.
Uma vez que os lares para idosos têm frequentemente horários e rotinas rígidas, estar em casa também permite muito mais flexibilidade tanto para o idoso como para o cuidador. O que permite não só suavizar a experiência para o idoso como diminuir o stress da família e dos cuidadores.
O que é a hospitalização domiciliária?
A hospitalização domiciliária designa um processo de assistência hospitalar direcionado para a prestação de cuidados de saúde em casa do doente sempre que a condições biológicas, psicológicas e sociais o permitam.
É um serviço especializado que proporciona tratamentos e cuidados equiparados aos cuidados dados no hospital, mas sem a necessidade de o idoso se deslocar aos serviços de saúde.
Os cuidados hospitalares domiciliários são prestados por um profissional licenciado, com supervisão clínica.
Enfermeiros, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas registados e licenciados podem todos prestar cuidados de saúde domiciliária, frequentemente através de prestação de serviços de saúde domiciliária ou, em alguns casos, também com prestação de cuidados paliativos.
Este tipo de cuidados é geralmente prescrito por um médico como parte de um regime de cuidados de saúde para o idoso após hospitalização ou lesão.
A hospitalização domiciliária pode incluir o seguinte:
- Fisioterapia e terapia ocupacional
- Administração de medicamentos ou injeções com receita médica
- Testes médicos
- Monitorização do estado de saúde
- Tratamento de feridas
Existem alguns parâmetros que devem ser cumpridos para a aplicação da hospitalização domiciliaria:
Equivalência na qualidade da prestação de cuidados
As visitas e a presença de profissionais experientes asseguram o acesso a tratamentos equivalentes aos proporcionados durante o internamento convencional no hospital.
Humanização e valorização do papel da família
A assistência personalizada, no contexto do domicílio, promovendo o envolvimento ativo da família em ambiente mais ajustado aos desejos e conforto dos doentes.
Os mesmos direitos e deveres
Os direitos e deveres dos doentes e da equipa de saúde responsável são os mesmos no internamento hospitalar e na hospitalização domiciliária.
Aceitação voluntária do modelo
A hospitalização domiciliária é voluntária, exige consentimento formal do doente e dos seus cuidadores, bem como a confirmação da existência, no domicílio, dos requisitos definidos pela equipa médica e de enfermagem como necessários para o seu caso em particular.
Rigor nos critérios de admissão e processo de assistência
A hospitalização domiciliária tem critérios de admissão bem definidos e uma planificação rigorosa de todo o processo assistencial, desde a admissão até à alta.
Dispositivos que podem ser utilizados na hospitalização domiciliaria
Dado que o apoio proporcionado com a hospitalização domiciliária se assemelha ao tratamento dado no hospital, por vezes é necessário utilizar dispositivos médicos específicos.
Eis alguns exemplos:
Camas elétricas reguláveis em altura com colchões anti escaras de modelos mais recentes.
Poltronas elétricas reclináveis e com sistema de elevação.
Cadeiras de rodas e cadeira de banho especializadas para doentes com elevado grau de dependência.
Terapias respiratórias que incluem um aspirador de secreções, oxímetro, aparelho nebulizador ultrassónico, concentrador de oxigénio fixo e portátil.
Monitor médico portátil de sinais vitais que faz a monitorização do traçado cardíaco, tensão arterial e oximetria com ajuste dos alarmes sonoros.
Produtos para a prevenção e o tratamento avançado de feridas.
Soroterapia e antibioterapia endovenosa.
Bombas e seringas infusoras para administração de terapêutica EV ou alimentação entérica e parentérica.
Doenças mais comuns tratadas em hospitalização domiciliaria
As pessoas que necessitam de hospitalização domiciliária sofrem, geralmente de doenças que provocam alguma ou grande incapacitação.
Estas são algumas das doenças que podem necessitar de hospitalização domiciliária:
- Pneumonia adquirida na comunidade
- Insuficiência cardíaca congestiva
- DPOC
- Desidratação em pessoas idosas
- Acompanhamento de doentes com neoplasia ou doenças crónicas como ELA, Parkinson, Alzheimer ou AVC, em estado terminal
- Infeções urinárias adquiridas na comunidade
- Acompanhamento de doentes com necessidade de ventilação mecânica assistida
Quem pode beneficiar com a hospitalização domiciliária?
A população com mais potencial para necessitar de hospitalização domiciliaria é geralmente mais envelhecida e com doenças crónicas ou a existência de várias doenças em simultâneo.
Para que um idoso seja mantido em hospitalização domiciliária é necessário que a sua situação de saúde e o seu contexto familiar sejam determinados em concreto.
Os cuidados de saúde hospitalar domiciliários podem não ser necessários para as pessoas na terceira idade sem preocupações médicas significativas.
Mais frequentemente beneficia os adultos idosos que necessitam de assistência com lesões recentes, que são propensos a quedas, ou que foram diagnosticados com uma condição crónica, como diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
Os idosos recém-saídos da reabilitação, de uma estadia hospitalar, ou de um centro de enfermagem especializado também podem beneficiar.
Idosos que necessitam de monitorização após uma recente mudança de medicação, ou pessoas cuja saúde frágil as impede de se deslocarem em segurança para os consultórios médicos e voltarem para casa.
E ainda os idosos em declínio geral de funções que poderiam beneficiar de terapia ocupacional ou fisioterapia para recuperar a independência
Qual é a diferença entre apoio domiciliário e hospitalização domiciliária?
Os termos apoio domiciliário e hospitalização domiciliaria podem parecer semelhantes, mas, na realidade, prestam serviços distintamente diferentes.
O apoio domiciliário em geral oferece ajuda não-clínica, podendo apoiar o idoso com diferentes tarefas como preparação de refeições e companhia, enquanto que a hospitalização domiciliária proporciona assistência médica profissional em casa.
Muitas vezes, as famílias descobrem que uma combinação dos dois serviços é bastante benéfica para os idosos.
Os profissionais de saúde podem providenciar serviços médicos, enquanto os auxiliares de saúde ao domicílio ajudam nas atividades diárias.
Esta abordagem mais abrangente assegura que as necessidades emocionais e médicas dos idosos sejam ambas satisfeitas.
Hospitalização domiciliaria
Os cuidados de saúde prestados com a hospitalização domiciliaria são facultados por um profissional de saúde especializado, com supervisão médica.
Este tipo de cuidados é geralmente prescrito por um médico como parte de um regime de cuidados de saúde específico para o idoso após a hospitalização ou a ocorrência de uma lesão.
É especialmente recomendada para:
- Idosos recentemente dispensados da reabilitação, de uma estadia hospitalar ou de um centro de enfermagem especializado
- Idosos que necessitam de monitorização após uma recente mudança de medicação
- Pessoas idosas cuja saúde frágil as impede de se deslocarem ao consultório médico ou ao hospital
- Idosos com um declínio geral da função
Apoio domiciliário
Os cuidados apoio ao domicílio proporcionam compaixão e ajuda aos idosos que necessitam de assistência nas suas atividades diárias.
Os níveis de cuidados variam de acordo com a necessidade e podem ir desde a preparação semanal de refeições até à ajuda com a incontinência urinária.
Os prestadores de cuidados ao domicílio podem ser contratados a título privado ou através de uma empresa.
São especialmente treinados para compreender as especificidades dos cuidados com pessoas idosas, mas geralmente não estão habilitados a prestar serviços médicos.
Os serviços de apoio domiciliário para idosos incluem ajuda com diversas necessidades diárias como:
- Companhia
- Leitura em voz alta e conversação
- Várias atividades em casa
- Transporte para consultas médicas
- Assistência em atividades da vida diária como vestir, tomar banho e cuidar de outros afazeres
- Preparação ou entrega de refeições
- Gestão de medicamentos e lembretes, mas não a administração direta de alguns medicamentos
- Limpeza e organização
- Ajudar a gerir as finanças e a fazer pagamentos
É recomendado para:
- O apoio ao domicílio pode beneficiar uma grande variedade de idosos que envelhecem em casa.
- Pode ser útil caso o idoso necessite de mais interação social para reduzir a solidão e o isolamento ou necessite de assistência mais especializada, um assistente de cuidados ao domicílio pode ser uma grande ajuda no dia a dia
- Os idosos que necessitam de ajuda nas atividades da vida diária, desde o banho até à utilização da casa de banho
- Idosos que ainda estão ativos, mas necessitam de ajuda com deslocações
- Idosos que necessitam de ajuda na cozinha, limpeza, e outras responsabilidades domésticas
- Idosos que precisam de companhia ou sentem-se isolados em casa
Quais os benefícios da hospitalização domiciliária?
À primeira vista pode parecer óbvio que o hospital seria o melhor local para cuidar de um idoso doente ou que sofreu uma lesão, mas nem sempre é este o caso.
Alguns estudos sugerem que a admissão de pessoas idosas frágeis no hospital pode levar a um declínio na sua capacidade física.
Há também a ter em conta o risco de desenvolver uma infeção adquirida no hospital, o que pode causar sérias complicações ou mesmo a morte.
E se o idoso já estiver a receber cuidados regulares em casa, enviá-lo para o hospital pode interromper a relação com o seu cuidador e este vínculo pode ser difícil de restabelecer posteriormente.
As pessoas idosas também correm um risco significativamente maior de desenvolver uma condição chamada delírio se forem internadas no hospital.
Esta situação de saúde é em geral pouco conhecida, mas ocorre com frequência nas pessoas idosas, o delírio é um estado de confusão aguda.
Pode ter efeitos graves, tais como acelerar ou desencadear demência, e leva frequentemente a que as pessoas passem mais tempo no hospital e acabem por ficar mais tempo no hospital.
Não se sabe exatamente por que razão as hospitalizações podem levar ao delírio, mas o ambiente desconhecido e stressante da enfermaria e a perda de uma rotina doméstica reconfortante desempenham, sem dúvida, um papel.
Há também custos financeiros, bem como custos pessoais associados aos cuidados hospitalares.
Manter as pessoas durante um tempo prolongado no hospital é dispendioso, e as pessoas com mais de 85 anos representam um quarto das ocupações das camas de hospital no Serviço Nacional de Saúde.
Evitar esta situação tanto quanto possível seria melhor para os idosos, reduzir a admissão a cuidados prolongados no hospital, mantendo as pessoas idosas a viver em casa por mais tempo e também assim poupar dinheiro aos idosos e ao Serviço Nacional de Saúde.
Levar o hospital ao idoso em vez de o levar para o hospital.
Em vez de admitir uma pessoa idosa no hospital após uma queda ou doença súbita, uma equipa multidisciplinar de especialistas, incluindo enfermeiros especializados, um fisioterapeuta e terapeuta ocupacional e outros profissionais como psiquiatras, nutricionistas, terapeutas da fala e assistentes sociais, pode avaliar as necessidades individuais de saúde do idoso.
Esta equipa pode de seguida elaborar um plano para a prestação de cuidados apropriados na casa do idoso.
Naturalmente, pode sempre ser internado no hospital se for necessário, e continua a ter acesso ao seu médico de família habitual e aos cuidados de saúde no centro de saúde como habitualmente.
Em geral, parece haver um risco de morte mais baixo seis meses após uma queda ou doença súbita para pessoas que são cuidadas nas suas próprias casas desta forma, em comparação com as que são admitidas no hospital.
A hospitalização domiciliária dos idosos nas suas casas demonstrou não só melhorar os cuidados de saúde às pessoas de idade, mas também reduzir os gastos com os próprios cuidados de saúde.
Além disso, as visitas da equipa médica ao domicílio permitem aos médicos e aos outros profissionais de saúde tratar os doentes onde se sentem mais confortáveis e avaliar as suas situações de existência e a sua qualidade de vida no local onde vivem.
Eis alguns dos benefícios:
- Maior conforto e menor impacto familiar, social e profissional da doença
- Resultados clínicos e segurança equivalentes aos de um internamento hospitalar convencional
- Redução do tempo total de internamento e das complicações associadas
- Redução da probabilidade de reinternamento
- Promoção da participação das pessoas mais próximas do doente no seu tratamento
- Promoção da autonomia e da recuperação funcional
- O doente beneficia de maior bem-estar psicológico uma vez que se encontra em sua casa e rodeado pela sua família
- O doente tem menor degradação nutricional
- O doente tem um descanso mais reconfortante durante o período noturno
- O doente tem um tratamento e assistência mais personalizada com a vantagem de manter a sua autoestima e dignidade
- O doente tem menor probabilidade de infeções nosocomiais, quedas e de delírio uma vez que se encontra num ambiente que lhe é familiar e sem partilhar o espaço com outros doentes que possam propagar outras doenças
- Menos perturbações comportamentais em doentes com demência
- Redução da administração de antipsicóticos
Conclusão
Uma admissão por doença aguda no hospital é um acontecimento de vida stressante para as pessoas mais velhas, particularmente para as pessoas com deficiência cognitiva.
A hospitalização é frequentemente complicada por síndromes geriátricas associadas ao hospital, incluindo delírios e perda funcional, levando ao declínio funcional e à admissão compulsiva em lares de idosos.
A hospitalização ao domicílio visa evitar resultados adversos associados à hospitalização em doentes idosos com deficiência cognitiva, prestando cuidados hospitalares no próprio ambiente familiar do doente.
Os doentes mais idosos hospitalizados são frequentemente privados de sono e passam em média 20 em cada 24 horas na cama, tornam-se malnutridos e sofrem de privação sensorial ou excesso de estímulo, resultando em confusão mental e grande stress.
Estes efeitos adversos da hospitalização contribuem para a ocorrência de condições geriátricas, tais como delírio, declínio funcional, quedas, incontinência, infeções adquiridas no hospital e lesões por pressão.
Além dos resultados adversos da hospitalização, muitas pessoas idosas e os seus cuidadores não desejam necessariamente uma hospitalização em caso de doença aguda ou exacerbação de uma doença crónica.
Geralmente as pessoas de 65 anos ou mais de idade que foram hospitalizadas com um diagnóstico primário de insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ou pneumonia, prefeririam ficar em casa.
Mais de 50% dos pacientes mais velhos preferem receber tratamento hospitalar em casa, porque sentem que as suas casas são mais confortáveis.
A hospitalização domiciliária pode constituir uma alternativa eficaz aos cuidados hospitalares prestados no hospital para os doentes idosos que necessitam de ser hospitalizados.
É esta garantia de segurança, conforto e familiaridade que pode fazer toda a diferença no bem-estar e na recuperação da saúde do idoso.
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Referências:
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
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