Teve uma queda e fraturou o punho. Seguiu-se o tratamento habitual: gesso e algumas semanas sem mexer o braço. O que não contava era com a dor forte e persistente que surge semanas depois de ter tirado o gesso.
Possivelmente desenvolveu uma algoneurodistrofia, uma doença rara e que muitas vezes não é diagnosticada, caraterizando-se por uma dor muito intensa, formigueiro e dificuldade para mexer a mão.
Causa um grande sofrimento e pode levar até 1 ano para ser curada, mas em alguns casos pode mesmo durar vários anos, deixando sequelas incapacitantes e muitas vezes permanentes.
Ocorre mais frequentemente em jovens adultos e afeta 2 a 3 vezes mais as mulheres do que os homens, aparecendo sobretudo nas pernas, pés, braços e mãos. No entanto, é raro que sejam afetados os dois braços ou as duas pernas ao mesmo tempo.
Está associada sobretudo a fraturas, sendo esta a causa em 50% dos casos. Outras causas podem ser as cirurgias, inflamações na pele, articulações ou lesões de outro tipo.
Saiba como esta doença pode ser tratada, quais os sintomas e como pode ser feita a sua prevenção, neste artigo que elaborámos para si.
O que é a algoneurodistrofia?
Algoneurodistrofia, também conhecida como síndrome da dor regional complexa, é uma doença que afeta as articulações e não tem uma causa específica, podendo ter muitas causas.
Depois de acontecer um acidente ou uma lesão que, normalmente, afetam mais frequentemente as mãos ou os pés, o sistema nervoso entra em modo hiper reativo e ocorre uma dilatação dos vasos sanguíneos, levando a um inchaço na zona que foi afetada.
A articulação afetada fica vermelha, inchada e com muita dor.
A doença manifesta-se em duas fases: a fase quente e a fase fria.
- Na fase quente a dor tende a aumentar ao final do dia e a inflamação provoca ardor, formigueiro e cãibras.
- Na fase fria, a inflamação e o inchaço diminuem, enquanto o calor e a vermelhidão desaparecem. Nesta fase a dor torna-se mais difusa, mas ainda bastante intensa.
Existem dois tipos da doença:
- Tipo 1: acontece quando há uma lesão nos ligamentos, tendões ou ossos, provocada por um acidente como uma queda, esmagamento ou outros.
- Tipo 2: ocorre quando os nervos são afetados por lesão e causa uma sensação contínua de queimadura.
Quais as causas?
As causas diretas que contribuem para o desenvolvimento da doença não são conhecidas. Sabe-se que surge geralmente a seguir a um traumatismo como uma fratura, luxação do músculo ou lesões que foram produzidas por acidente, impacto forte ou golpe.
A doença estabelece-se, normalmente, no próprio momento em que ocorre a lesão ou passados alguns dias.
Outras causas potenciais têm sido apontadas por investigadores:
Genética:
O seu desenvolvimento pode ser potenciado por uma alteração nos genes.
Alterações psicológicas ou emocionais:
A presença de um estado depressivo, perturbações emocionais ou distúrbios alimentares pode levar ao desenvolvimento da doença.
Alterações no Sistema Nervoso Central:
Algumas alterações no sistema nervoso, levam a uma hipersensibilidade que pode aumentar a sensação de dor, ou tornar dores ligeiras em dores mais graves.
Alterações vasculares:
Quando há interrupção do fluxo sanguíneo nas pernas ou nos braços que provoca inflamação.
Alterações do metabolismo:
As alterações no organismo provocadas por outras doenças como a diabetes ou o hipertiroidismo podem fazer aumentar as chances de desenvolvimento da doença.
Medicamentos:
A utilização de alguns medicamentos pode fazer aumentar a dor ou acentuar a inflamação provocada pela lesão.
Stress:
Em alguns casos pensa-se que o stress pode agravar a doença.
Qual é o tratamento?
O tratamento serve essencialmente para diminuir a dor e aumentar a mobilidade do membro afetado, quer seja a mão ou o pé. Além disso serve ainda para educar e informar o doente, evitar que se torne num problema crónico e promover a utilização da forma mais confortável possível do membro afetado.
Geralmente é constituído por vários tratamentos que englobam o uso de medicamentos, tratamento psicológico e fisioterapia, entre outros.
Com um foco individualizado e multidisciplinar, o início do tratamento deve acontecer o mais cedo possível para evitar sequelas e possibilitar uma recuperação mais completa.
Assim que é aplicado pode melhorar os sintomas nas primeiras 6 ou 8 semanas, mas só ao fim de 6 meses é que pode apresentar resultados mais duradouros.
Tipos de tratamento:
Medicamentos:
Os remédios mais usados são os que combatem a dor, especialmente os mais fortes como os analgésicos opióides, também usados em tratamentos paliativos de cancro. Mas, também podem ser usados antidepressivos ou outro tipo de medicamentos.
O objetivo principal é que os medicamentos possam aliviar a dor o suficiente para que seja possível fazer a reabilitação da zona afetada.
Neuromodulação:
Neste tipo de tratamento é feita uma massagem rápida da zona afetada seguida de outro tipo de tratamento. Em alguns casos, é feito um implante na medula espinal para estimular os gânglios, que são uma parte do corpo que ajuda a drenar o organismo.
Psicoterapia:
Este processo de reabilitação ajuda a lidar com as emoções, ou quando há depressão e ansiedade, sendo uma faceta muito importante para a recuperação dos doentes com algoneurodistrofia.
A psicoterapia é muito recomendada nos casos de doença que implicam dor crónica e nos casos mais graves, devido a haver um grande impacto na qualidade de vida das pessoas.
Tende a melhorar a eficácia do tratamento quando está englobada numa abordagem de múltiplos tratamentos. Permite ajudar o doente a gerir a ansiedade e a alcançar um maior relaxamento, o que por sua vez reduz a intensidade da dor e facilita o processo de reabilitação.
A psicoterapia atua em 3 níveis:
- Tratamento de duas ou mais doenças do foro psicológico que acontecem ao mesmo tempo
- Gestão da perceção de dor
- Melhoria dos fatores psicológicos que podem contribuir para manter a situação de dor.
Terapia Ocupacional:
Esta terapia pode ajudar a melhorar a funcionalidade da mão ou do pé que foi afetado, ajudando a ganhar mais mobilidade.
Tem um papel importante na criação de maior independência para o doente, facilitando a realização das atividades diárias, a sua reaprendizagem ou a utilização de produtos de apoio.
Inclui estratégias de reeducação da sensibilidade, treino da destreza manual com a utilização de objetos, treino de coordenação motora e atividades em que são utilizadas as duas mãos, para fazer a reintegração da extremidade afetada.
Uma das técnicas utilizadas é a terapia de espelho:
É colocado um espelho entre os dois membros, ficando o membro afetado escondido e o saudável é refletido no espelho. O fisioterapeuta dá indicações para mover os dois ao mesmo tempo. Ao olhar para a mão saudável refletida no espelho, o doente fica com a sensação que a outra mão também é saudável, o que leva a uma redução substancial da sensação de dor.
Fisioterapia:
O tratamento com fisioterapia é essencial para uma melhor recuperação e deve começar o mais cedo possível, crescendo de intensidade ao longo do tempo, tendo em consideração o nível de tolerância do doente.
Este tratamento trabalha no sentido de desenvolver a mobilidade, fortalecer e devolver uma maior capacidade de movimentação para a zona afetada, sempre com o objetivo de fazer a reabilitação completa.
A fisioterapia pode ajudar de muitas formas. Com a movimentação da parte do corpo que está a causar dor, pode ajudar a evitar o atrofiamento dos músculos, a aumentar a amplitude do movimento, diminuir a sensibilidade à dor e levar a que a pessoa se sinta melhor.
Facilita a flexibilização dos tecidos, a normalização da postura, dos padrões de movimento e de controle motor. Promove o alívio da dor e a funcionalidade, reduzindo as complicações.
Algumas das estratégias da fisioterapia são:
- Utilizar diferenças de temperatura: aplicando alternadamente água quente e água fria na lesão.
- Utilização de aparelhos de electroestimulação: este método provoca a contração muscular, mesmo a um nível mais profundo, através de impulsos elétricos com baixa eletricidade. Os impulsos gerados imitam os impulsos que o sistema nervoso central cria para controlar os movimentos e os músculos.
Aplicação de bandas:
É uma técnica de reabilitação que implica a aplicação de bandas sobre a pele. Estas facilitam o processo de regeneração do organismo, estabilizando e dando apoio aos músculos e articulações sem afetar o seu movimento, reduzindo assim o inchaço e a dor e proporcionando o seu funcionamento normal.
Massagens:
As massagens servem para estimular a circulação sanguínea e a recuperação de forma mais rápida.
Exercícios:
Para melhorar a força e a mobilidade. Fortalecer os ossos e articulações, ajudando a diminuir o inchaço.
Reeducação sensitiva:
Estimulação da zona afetada com diferentes texturas e objetos.
Acupunctura:
Para ajudar a aliviar a dor. Pode ser aplicada logo a seguir às massagens, por exemplo.
Quais são os sintomas da algoneurodistrofia?
Os sintomas associados à algoneurodistrofia são muito variados e não apresentam um padrão específico. Podem aparecer associados às alterações de sensações físicas ou de funcionamento das mãos ou dos pés, ou de outras zonas afetadas.
No entanto, o sintoma mais comum é a dor forte e persistente, muitas vezes associada a deformações nos ossos, alterações na circulação do sangue e uma sensibilidade muito acentuada na pele da zona afetada.
Os sintomas podem ser distribuídos por grupos, de acordo com as suas caraterísticas:
Dor:
Intensa, persistente e dando a sensação de estar a queimar. Normalmente a dor fica restrita à região afetada, mas pode agravar-se com alterações no meio ambiente ou por stress.
A funcionalidade da mão ou da parte afetada pela dor, fica comprometida e impede a sua utilização. Associada à dor há também uma sensibilidade muito grande ao toque e uma tendência para sentir mais dor do que aquela que seria esperada sentir, tendo em conta a lesão.
Sintomas na pele:
- Temperatura quente ou fria na zona afetada
- Surgimento de pelos
- Pele avermelhada
- Palidez
- Pele seca
- Inchaço
- Dormência
- Brilho
- Suor
- Formigueiro
Sintomas nas unhas:
- Crescimento acelerado
- Existência de estrias
Sintomas motores:
- Tremores
- Fraqueza muscular
- Espasmos
- Alterações nos ossos
- Contrações musculares e movimentos involuntários
- Movimento limitado
Sintomas psicológicos:
Como é feito o diagnóstico?
O médico irá fazer uma avaliação dos sintomas para fazer o diagnóstico. Alguns dos sinais que o médico irá prestar atenção são:
- Sensibilidade ao toque
- Alterações na aparência ou temperatura da pele
- Presença de inchaço ou suor na zona afetada
- Nível de dor superior do que seria esperado para a lesão
- Redução de capacidade de movimentar a mão ou o pé
- Fraqueza muscular
- A presença de tremores ou espasmos
O médico poderá também pedir a realização de exames complementares como radiografias, cintigrafia óssea, para verificar a existência de inflamação, ou outros testes para verificar se a lesão afetou os músculos ou os nervos.
Quais são as complicações?
Nos casos mais graves a doença pode progredir e espalhar-se para outras zonas do corpo, causando uma maior incapacidade ao doente.
Outras complicações que podem surgir são:
- Dor intensa que não se consegue controlar
- Progressão da lesão da mão para o ombro
- Inchaço crónico
- Infeção na pele
- Enfraquecimento dos ossos
- Contrações incontroláveis dos músculos
- Espasmos constantes
A algoneurodistrofia tem cura?
A progressão e resolução da doença são difíceis de prever. Esta pode permanecer igual durante anos, pode haver uma diminuição significativa dos sintomas ou pode haver um agravamento.
Por esta razão, é extremamente importante que o tratamento comece o mais cedo possível para que a doença seja mais facilmente controlada.
Algoneurodistrofia: qual a prevenção?
Quando acontece uma fratura ou uma luxação, a melhor prevenção é evitar a imobilização. Assim, deve ser estimulado o tratamento destas lesões com o intuito de encorajar a mobilização o mais cedo possível.
A ingestão de vitamina C quando acontece a lesão, também pode ser um fator preventivo. Alguns estudos indicam que a toma da vitamina todos os dias a partir do dia do traumatismo que levou à fratura ou outra lesão, pode reduzir o desenvolvimento da algoneurodistrofia em 5 vezes, no primeiro ano a seguir à fratura.
No que diz respeito à prevenção após uma intervenção cirúrgica a uma extremidade, existem alguns estudos que recomendam a utilização de 2g de vitamina C antes da operação e 1g até 50 dias depois da cirurgia.
Conclusão
A síndrome dolorosa regional complexa ou algoneurodistrofia, é uma doença difícil de suportar, causando uma dor muito intensa, muitas vezes acompanhada de alterações na sensibilidade e de funcionamento da zona afetada.
Por vezes implica uma grande atividade do sistema nervoso, causando uma desproporção entre os sintomas e a razão que levou ao desenvolvimento da doença.
De acordo com a Associação Internacional do Estudo da Dor, a doença surge normalmente depois de um traumatismo e apresenta inchaço e suor na zona atingida, afetando preferencialmente os membros superiores.
A fisioterapia é uma parte essencial do tratamento e deve ser iniciada o mais cedo quanto possível. Sendo a imobilidade uma das causas principais do agravamento e persistência dos sintomas.
A reabilitação pretende não só restituir a capacidade de usar de novo o membro que foi afetado, como também reduzir a dor, e dar mais qualidade de vida ao doente, permitindo um retorno à normalidade com as melhores condições possíveis.
Juntos Cuidamos Melhor!
Nos centros Mais Que Cuidar encontra um conjunto de serviços que podem dar uma ajuda importante no apoio e no conforto a quem tenha algoneurodistrofia, prestando cuidados de saúde ao domicilio (apoio domiciliário, fisioterapia, enfermagem) e produtos de apoio para comprar ou alugar.
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Na Mais Que Cuidar tem ainda o apoio do médico fisiatra através da consulta ao domicílio ou da teleconsulta.
Referências:
- Repositório Científico do centro Hospitalar do Porto
- Manual MSD
- Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.