A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum no mundo. Sabe o que é o mal de Alzheimer, sintomas, causas, formas de diagnóstico e tratamento desta doença?
Conheça a história da mãe da Susana que vive sozinha em Portugal e tem 75 anos. Tem mantido a sua autonomia, cuida da sua casa, sai frequentemente com amigas e gosta muito de rir.
Recentemente a Susana soube que a mãe não tem comparecido às consultas médicas e encontros com amigos pois esquece-se do que combinou. Na outra semana perdeu-se no seu bairro, não conseguiu encontrar o caminho para casa e foi uma vizinha que a ajudou. Tem estado muito assustada pois apercebe-se que algo se está a passar pois tem tido perdas de memória e dificuldade em recordar-se de muitas palavras inclusive do nome dos netos.
A Susana sabe que a mãe já é idosa e associou todas estes acontecimentos à velhice mas, a conversar com uma colega, percebeu-se que pode estar relacionado uma doença mental neurodegenerativa, como o mal de Alzheimer que atinge maioritariamente os idosos mas também, de forma precoce, os jovens, a partir dos 40 anos.
O doente de Alzheimer tem quanto tempo de vida? Há cura para a doença de Alzheimer? Há algum teste para diagnosticar a doença precocemente? Quais são os alimentos recomendados? Saiba a resposta a estas questões e os cuidados que devemos adotar para proteger o nosso cérebro de doenças como a demência.
Doença de Alzheimer (demência) o que é?
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência. Segundo a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer (APFADA), este tipo de demência provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas, como a memória, atenção, linguagem, pensamento entre outras.
Define-se por demência uma diminuição (lenta e progressiva) da função mental, afetando capacidades intelectuais (como pensar, memorizar, aprender) e de interação social do indivíduo.
Alois Alzheimer, médico alemão, descreve pela primeira vez a doença, em 1907.
É considerada uma doença neurodegenerativa pois existe morte de células cerebrais, em determinadas partes do cérebro, assim como a destruição das conexões entre estas.
As células cerebrais vão diminuindo em quantidade e tamanho. Dá-se o depósito de beta-amiloide na células. Esta substância é uma proteína anormal e insolúvel que a célula não consegue remover.
Formam-se tranças neurofibrilhares (fios trançados de proteínas insolúveis na célula nervosa) no seu interior e placas Senis ou neuríticas (aglomerados de células nervosas mortas em torno de um núcleo de beta-amiloide) no seu exterior. Este fenómeno, impossibilita a comunicação entre células e destrói as conexões entre estas.
Por fim, a célula morre. É por isso que, com o avançar da doença, várias partes do cérebro são afetadas, assim como as suas capacidades e funções. Como já referido, é uma situação irreversível, pelo que uma vez perdida uma capacidade é raro voltar a recuperá-la ou reaprende-la.
De certo modo, tais anomalias desenvolvem-se em todos as pessoas à medida que envelhecem, mas são muito mais frequentes em pessoas com a doença de Alzheimer.
Se tem um familiar idoso com Alzheimer e está em dúvida se deve colocá-lo num lar de idosos ou contratar apoio domiciliário. Quer saber o preço da mensalidade de lares de idosos em Porto, Lisboa, Almada ou outras cidades de Portugal ou como oferecer apoio da melhor forma: Entenda a diferença entre lar de idosos e apoio domiciliário.
Alzheimer em Portugal
A doença de Alzheimer representa 60 a 70% de todos os casos de demência segundo a World Health Organization, em 2015. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem em todo o mundo 47.5 milhões de pessoas com demência, perspectivando-se que o valor triplique em 2050.
O impacto desta doença na vida da pessoa e sua família é tão significativo que, é celebrado o dia Mundial da Doença de Alzheimer, a 21 de Setembro, tendo como objectivo sensibilizar a população mundial para a doença.
Em Portugal não existe um estudo epidemiológico que espelhe a real situação no país. Contudo, segundo dados da Alzheimer Europe (referidos pela APFADA) apontam para cerca de 182 mil casos de demência e cerca de 130 a 132 mil pessoas com Alzheimer em Portugal.
A mesma associação apresenta relatório da “Health at a glance 2017”, em que posiciona Portugal no 4º país com mais casos de doença de Alzheimer por cada mil habitantes. Em consonância com os valores europeus, os casos de demência tendem a aumentar também em Portugal nos próximos anos.
Diferenças entre mal de Alzheimer e demência
Como já referido anteriormente, demência não é sinónimo de doença de alzheimer. Existem vários tipos de demência em que o Alzheimer é um deles.
Exemplos de outro tipos de demência:
Demência da doença de Parkinson
Doença neurodegenerativa, associada ao envelhecimento, em que existe um desequilíbrio no sistema nervoso central. As células responsáveis pela produção de dopamina (um neurotransmissor que assegura a comunicação entre células) são eliminadas por ataque de alguns tóxicos. Esse processo faz com que a produção de dopamina diminua, perdendo-se a possibilidade de interação e estímulo que proporciona a normal actividade muscular.
Saiba mais sobre a Doença de Parkinson
Demência vascular (AVC)
A demência vascular é a perda da função mental por destruição do tecido cerebral, por suprimento de sangue. É o caso dos acidentes vasculares cerebrais (AVC), o que pode conduzir à demência.
Apesar da demência estar relacionada com pessoas idosas, existe um tipo de demência que afeta pessoas entre os 30 e os 65 anos de idade. É a denominada Demência Precoce que, num estudo RAPSHODY apresentado pela APFADA, representam 9% de todos os casos de demência.
Tipos de demência / Alzheimer
Existem 2 tipos de doença de Alzheimer: Esporádica e a Familiar
- Doença de Alzheimer esporádica: Segundo a APFADA, este tipo de Alzheimer afeta adultos de qualquer idade mas ocorre habitualmente após os 65 anos de idade. É a forma mais comum da doença e afeta pessoas que podem ter ou não antecedentes familiares da doença.
- Doença de Alzheimer Familiar: Forma menos comum da doença e caracteriza-se pela transmissão da doença de uma geração para a outra. Este tipo de doença está relacionado com a mutação do gene APOE14 (como explicaremos mais à frente). Se um progenitor é portador do gene mutado, os seus descendentes terão 50% de hipótese de herdá-lo, aumentando a probabilidade de desenvolver a doença, em particular entre os 40-60 anos de idade.
Qual é o tempo médio de vida de uma pessoa com Alzheimer?
Em média, um doente de Alzheimer vive (após o diagnóstico inicial) entre sete a dez anos.
Fases do mal de Alzheimer
Os sintomas variam de doente para doente, tendo em conta a parte do cérebro que está afetada pela doença, mas culmina sempre numa situação de dependência completa e morte do doente.
A progressão da doença não é igual em todos os doentes, mas existe uma deterioração ao longo do tempo, podendo (esta progressão) ter períodos estacionários ou acelerar se o doente estiver exposto a stress, fadiga ou outros problemas de saúde.
Fase inicial – Demência inicial
Nesta fase os sintomas podem ser muito subtis. São comuns na fase precoce da doença as alterações na aprendizagem e memória, assim como no pensamento e planejamento. Começam a surgir complicações que interferem com a memória e de planejamento de actividades profissionais e da vida quotidiana e social.
O doente pode ficar confuso e com dificuldade em lidar com tarefas diárias habituais (como dinheiro), com dificuldade em expressar-se e organizar pensamentos. Surgem sintomas e sinais como:
- Muitas vezes o doente tem lapsos de memória, esquece acontecimentos recentes ou não se recorda do nome de um objeto ou local. É frequente o doente repetir a mesma frase ou pergunta várias vezes, sem que se dê conta.
- O doente esquece conversas e compromissos e altera o local onde coloca objectos para locais sem lógica.
- O doente fica inativo ou desmotivado.
É o próprio doente o primeiro a dar conta destes sinais que, muitas vezes, associa ao processo de envelhecimento. É frequente, pela subtileza dos sintomas, os familiares não se aperceberem destes sinais de alerta, muitas vezes associados ao processo de envelhecimento.
Fase moderada – Demência Moderada
Com o avançar da doença iniciam-se períodos de desorientação espaço-temporal, erros e faltas de memória mais frequentes. A desorientação torna-se óbvia pois deixa de ter noção do dia do mês, ano ou estação em que se encontra e perdem-se facilmente num espaço antigamente familiar.
Com os lapsos de memória mais frequente é habitual negligenciar a higiene e alimentação, esquecer-se de nomes de familiares ou amigos ou confundir um familiar com outro.
Geralmente, a partir desta fase, existe um risco de acidente acrescido. É frequente o doente com mal de Alzheimer esquecer-se das panelas no fogão e deixar o gás ligado, por exemplo. A perda da percepção de onde o corpo está em relação aos objectos em redor, conduz a um maior risco de acidentes.
A capacidade de falar, escrever e de compreensão de discurso vão se perdendo. O doente torna-se muito repetitivo. É comum surgirem alterações do padrão do sono como insónias, em manter o sono ou adormecer e desorientação e confusão (entre o período do dia e noite e o espaço onde se encontram). É comum o doente ver e ouvir coisas que não existem podendo adotar uma postura de desconfiança (exemplo: acredita que algo lhe foi roubado).
Surgem alterações de personalidade e de comportamento que pode incluir a depressão, apatia, irritabilidade, agressividade, alterações de humor, assim como comportamentos desadequado (ex: ir de pijama para a rua). Muitas das vezes a irritabilidade e angústia está associado a um sentimento de frustração por parte do doente. Por vezes, gritam e tomam uma postura de agressividade.
Agravam-se os sintomas da fase inicial em que o doente pode deixar de reconhecer amigos e familiares assim como o ambiente que o rodeia. Nesta fase o doente já não se apercebe da evolução da doença.
Fase avançada – Demência Avançada
Os níveis de dependência vão aumentando com o avançar da doença. O doente deixa de conseguir andar ou auto-cuidar-se. Não reconhece familiares e amigos. As alterações de comportamento tornam-se mais notórias, assim, como as alterações de humor.
É frequente nesta fase o doente apresentar desinibição sexual e um discurso ofensivo. Podem surgir alucinações, paranoias ou delírios que podem induzir a um aumento da agressividade.
É comum o agravamento das alucinações, delírios e períodos de confusão mental, incluindo durante a noite, com perturbações significativas do sono que se torna muito agitado.
Pode ocorrer casos em que o doente não se recorde de situações ocorridas poucos minutos antes (como por exemplo comer), mas podem ficar agitados e perturbados com recordações antigas, como de familiares já falecidos.
Na maior parte dos casos o doente fica incontinente (perda de urina ou fezes de forma involuntária), deixa de conseguir engolir, comer ou mesmo de comunicar.
Assim, é a partir desta fase que surge o risco de desnutrição e de infecções (como a pneumonia). Pela imobilidade e incontinência podem surgir lesões cutâneas como as úlceras de pressão (escaras).
Fase terminal
Nesta fase, geralmente os doentes permanecem imóveis, sentados ou deitados. Muitas das vezes, tendo em conta o agravamento das dificuldades, é necessário recorrer a sonda nasogástrica ou soro endovenoso de hidratação para alimentar e hidratar estes doentes.
Pela imobilidade, incontinência e dificuldade em manter uma adequada nutrição agravam-se os riscos de lesões cutâneas, infecções e desnutrição.
Na fase final de vida, o doente pode entrar em coma e a morte está muitas vezes associada a infecções (em especial respiratórias).
Em todo o processo evolutivo da doença, o indivíduo deve ser acompanhado por uma equipa multidisciplinar que vá dando resposta às necessidades que vão surgindo como, médico fisiatra, enfermeiro 24h, assistente domiciliária, fisioterapeuta, terapeuta da fala entre outros.
Numa fase final de vida, os cuidados paliativos, tomam um papel de extrema importância, com vista a proporcionar o maior conforto e alívio do sofrimento ao doente e sua família.
Sintomas de Alzheimer
Por vezes, é difícil compreender se as alterações cognitivas estão associadas ao processo natural de envelhecimento ou a uma situação patológica. Deve ser feita uma avaliação médica caso haja alterações que interfiram com a vida quotidiana do indivíduo.
Primeiros sintomas da doença de Alzheimer
Os sintomas variam, como já referido, de doente para doente, mas são sinais de alerta:
- Dificuldade em recordar o nome de um objecto comum, nome de amigo ou familiar
- Esquecimento de acontecimento (em particular os mais recentes), como um compromisso ou conversas
- Deixa de conseguir acompanhar uma história, como uma telenovela
- Tem dificuldade em se localizar no dia do mês, ano e estação do ano
- Esquecer onde está e como lá chegou
- Esquecimento de datas importantes como aniversários, épocas festivas
- Colocar objectos em lugares desadequados e não recordar onde os guardou
- Dificuldade em manter uma conversa, não conseguindo manter o raciocínio ou não encontrando as palavras corretas para tal
- Dificuldade em lidar com atividades do dia a dia como o dinheiro
- Não reconhecer o seu próprio reflexo no espelho
- Dificuldade na leitura e escrita
Perda/lapsos de memória
A perda da memória e lapsos de memória é dos sintomas mais comuns da doença e é transversal a todas as fases evolutivas da doença. É normal que uma pessoa tenha lapsos de memória mas, recorda-se passado algum tempo.
Na doença de Alzheimer a perda de memória é irrecuperável. Se inicialmente o doente não se recorda do nome de um objecto, no final da doença ,é provável, que não reconheça os familiares ou mesmo o local onde se encontra.
Esta situação faz com que o doente esteja sempre a repetir a mesma pergunta ou a repetir sempre a mesma informação.
Mudanças cognitivas
Apresentam dificuldades em pensar, raciocinar e na concentração. Tem particular dificuldade em lidar com conceitos abstratos como os números, pelo que rapidamente perdem a capacidade de gerir o dinheiro.
Apresentam alteração da capacidade de atenção. Perdem a capacidade de recordar acontecimentos recentes, apresentam facilmente desorientação no espaço e tempo.
Muitas vezes, perdem a capacidade de comunicar com os que o rodeiam, pois perde a capacidade de compreender o raciocínio da linguagem escrita e falada assim como é esquecido o significado de muitas palavras.
Mudanças comportamentais
No Alzheimer, o doente vai perdendo a capacidade de planear, executar e resolver situações da vida quotidiana. A dificuldade de raciocínio, dificuldade na concentração e perda de memória dificulta a capacidade de trabalhar e torna a execução de tarefas simples mais demorada. Por vezes, iniciam actividades (como preparar uma refeição) mas não terminam, por esquecimento.
O discurso torna-se, muitas vezes, vago e com visível dificuldade de compreender o raciocínio e sequência da conversação.
Perdem o entusiasmo pelas actividades anteriormente apreciadas, como os passatempos. Ou seja, dá-se uma deterioração das competências sociais, situação esta que conduz ao afastamento do ambiente laboral, círculo de amizades e hobbies, o que induz a um isolamento social destes doentes.
Existe frequentemente a negligência pessoal, no que se refere aos cuidados de higiene e aos cuidados com a aparência pessoal. Surgem frequentemente situações de desinibição, agressividade, acumulação de objectos entre outras situações.
Personalidade e comportamento agressivos
A doença de Alzheimer torna o indivíduo emocionalmente imprevisível. O doente pode irritar-se com facilidade, mostrar períodos de ansiedade, angústia, confusão, desorientação, tornam-se pessoas desconfiadas e com medo.
A alteração de comportamento pode desencadear agressão verbal (exemplo: linguagem abusiva) e física (exemplo: bater) o que muitas vezes é a forma encontrada pelo doente para expressar o medo, raiva e frustração.
Um outro comportamento comum é a repetição. Fazem as mesmas perguntas e conversas múltiplas vezes e podem andar sempre atrás do cuidador, como se de uma sombra se tratasse.
A doença do mal de Alzheimer tem cura?
Infelizmente, a doença de Alzheimer não tem cura mas existem vários tratamentos que ajudam a retardar o progresso da doença.
Tratamentos
Os tratamentos atuais para o Alzheimer permitem melhorar as alterações da memória e os sintomas cognitivos. Contudo, não alteram a progressão da doença.
A doença de Alzheimer tem 2 vertentes de tratamento: a farmacológica (medicamentos) e não farmacológica (actividades e comportamentos para retardar os efeitos do Alzheimer) sendo uma o complemento da outra.
Tratamentos não farmacológicos:
Atividades para retardar os efeitos do Alzheimer
Estimulação Cognitiva
Todos os estudos indicam que a estimulação (cognitiva, social e física) do doente ajuda a manter as funcionalidades e competências preservadas e o seu bem-estar.
É fundamental a estimulação cognitiva como a atenção, memória, linguagem, entre outras áreas.
Um doente mais ativo e estimulado utiliza o cérebro de maneira mais ativa. Esta estimulação deverá ser orientada e realizada por profissionais como um médico, psicólogo, gerontologista, terapeuta ocupacional, entre outros, mas também pela família próxima e cuidadora.
Segundo o estudo apresentado por Soraia Batista Lopes (2017) a estimulação cognitiva permite a preservação das capacidades, reconhecendo a importância da estimulação cognitiva como uma intervenção não farmacológica capaz de prolongar o funcionamento cognitivo em idosos com a doença de Alzheimer e consequentemente promover melhores condições de saúde, uma vez que a funcionalidade cognitiva do idoso está relacionada com a sua saúde e qualidade de vida.
Para que esta estimulação seja eficaz é fundamental a adesão do doente pelo que deve ser um momento positivo, relaxante e compatível com as capacidades do doente, promovendo a sua segurança e auto-estima.
Geralmente são utilizadas técnicas como jogos, desafios mentais, construções, entre outras.
Estimulação Social
Como já descrito, o doente deve ser estimulado em diferentes vertentes e a social é de extrema importância para evitar o seu isolamento e apatia e estimular o convívio e comunicação assim como para retardar o esquecimento das pessoas que lhe são próximas.
Este deve ser envolvido em actividades culturais, festivas ou de lazer, de forma a sentir-se integrado e amado por outros. Contudo, estas actividades devem respeitar o interesse e motivação do indivíduo assim como deve ser realizadas em ambientes familiares ao doente, para que este se sinta mais confortável e em segurança.
Para este tipo de doentes, o contacto com a família tende a ser a principal fonte de convívio e satisfação. Por exemplo: realização de pequenos convívios familiares em que se relembra momentos familiares agradáveis relacionados.
Exercício Físico e a Fisioterapia
O fisioterapeuta tem uma função importantíssima na estimulação física do doente. O exercício físico deverá ser feito acompanhado preferencialmente por um profissional como por exemplo (um personal trainer), com o objetivo de potencializar resultados e evitar acidentes (uma vez que o doente deixa de ter a capacidade de avaliar o risco). Os exercícios devem ser de fácil compreensão e execução.
Podem ser indicados movimentos de alongamento, fortalecimento muscular, entre outros e deve ser realizado durante cerca de 30 a 40 minutos, pelo menos, 3 vezes por semana. Na ausência do fisioterapeuta, o cuidador deverá ser orientado a ajudar o doente na realização de exercícios em casa e diariamente.
Exercícios físicos reduzem o risco do mal de Alzheimer?
Como já referido anteriormente, a estimulação física e fisioterapia trás benefícios tais como:
- Na coordenação, força muscular, equilíbrio e flexibilidade, prevenindo quedas e fraturas ósseas;
- Mantém as articulações saudáveis;
- Evita a obstipação pois aumenta os movimentos peristálticos do intestino;
- Evita problemas cardiovasculares;
- Contribui para manter uma boa qualidade de sono;
- Previne o aparecimento de úlceras de pressão (escaras) associadas à imobilização;
- Previne a imobilização do doente evitando que o doente fique acamado;
- É um estimulante sensorial.
Musicoterapia
Muitos poetas, músicos e escritores descrevem a música como tónico para o corpo e para a alma. E é nessa vertente que a musicoterapia tem mostrado bons resultados quando se trata de diminuir o stress, ansiedade e agressividade em doentes com Alzheimer.
Estudos mostram que a música trabalha o estado emocional do doente, estimula a sua memória assim como a sua parte motora. A partir do momento que é proposta uma música do agrado do doente, esta vai promover a tranquilidade, estimular memórias e trazer sensação de prazer, melhorando a sua qualidade de vida.
Como retardar os efeitos do Alzheimer?
Existem comportamentos que proporcionam mais tranquilidade e segurança ao doente com Alzheimer, promovendo a sua qualidade de vida e bem estar.
Como tornar a rotina mais tranquila?
A importância do ambiente é fundamental para evitar ansiedade, agitação, delírios e alucinações, comuns neste tipo de patologia.
Como já referido, o ambiente em que se encontra o doente com Alzheimer deve ser tranquilo, em que o tom de voz deve ser ameno e devem ser evitadas discussões ou conflitos desnecessários. Deve ser evitado ruídos fortes e o ambiente deve estar sempre organizado e limpo de forma a proporcionar uma rotina estável e simples.
Acompanhamento específico para cada problema que surgir
Durante a evolução da doença, vão surgindo novos sintomas ou mesmo patologias com que o doente terá de lidar. Temos o exemplo da dificuldade em andar e auto-cuidar-se, de engolir, de comunicar, entre outras situações.
Assim, é importante trabalhar cada etapa com profissionais especialistas em cada área, como é o caso de enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicoterapeutas, terapeutas da fala, assistente social, nutricionistas, médicos (neurologista, geriatra, psiquiatra, clínico geral), entre outros.
Muitas famílias necessitam da ajuda de uma assistente de apoio domiciliário para situações pontuais como a higiene do sono ou mesmo para acompanhar o doente durante o dia e noite.
Na maioria dos casos, são necessários tratamentos especializados relacionados com a alimentação, deglutição, locomoção, entre outros.
Alimentação
Também nesta área, a doença de Alzheimer pode apresentar diferentes características de doente para doente. Há doentes que perdem o apetite, outros que comem em excesso. Há doentes que se esquecem de mastigar ou engolir, outros doentes que parecem ter um apetite insaciável. Para todas as situações devem ser adotadas medidas e estratégias para que se possa manter uma alimentação o mais ajustada à sua condição de saúde.
A alimentação é muito importante na complementação dos tratamentos pelo que deve ser dada preferência a uma alimentação variada e equilibrada, onde se deve preferir alimentos frescos e naturais como legumes e frutas, cereais, lacticínios e azeite de origem vegetal.
A ingestão de líquidos deve ser (preferencialmente água), no mínimo, 1 litro por dia e deve ser evitado ou moderado o consumo de açúcar, sal e produtos industrializados.
Nos doentes de Alzheimer, a alimentação e a preparação da mesma, tem de ter cuidados reforçados por parte dos cuidadores e familiares uma vez que é uma área que o doente tende a negligenciar. Para além disso, podem surgir dificuldades acrescidas, associadas à doença (como dificuldade em deglutir, dificuldade em controlar os talheres) que devem ser tidas em consideração pelo cuidador.
Em casos avançados de doença, por vezes, é necessário a administração de alimentação por sonda nasogástrica. Para tal, podem ser utilizados batidos ou sopas enriquecidas com proteína, suplementos alimentares ou produtos pré-fabricados com equilíbrio nutricional adequado a estes doentes.
Tratamentos farmacológicos ou Remédios:
Apesar de não haver cura para a doença de Alzheimer existem vários medicamentos que ajudam a retardar os sinais e diminuir sintomas da doença, sendo que todos eles devem ser prescritos por um médico.
A sua administração deve ser bem ponderada e avaliada pelo médico pois, alguns deles, apresentam efeitos secundários significativos (como os antipsicóticos e medicação para diminuição de ansiedade).
O familiar e cuidador deve estar bem informado dos efeitos secundários de cada medicação.
A medicação num doente de Alzheimer não é sempre igual, vai alterando ao longo do tempo, pelo que a reavaliação medicamentosa é muito importante.
Uma vez que o doente pode tomar outras medicações, para sintomas ou patologias diferentes, o médico deve estar sempre informado de toda a medicação que o doente faz, para evitar a interferência medicamentosa e/ou sobredosagem.
A medicação para a doença de Alzheimer está dividida em 2 grandes grupos:
- Terapêutica Colinérgica ou inibidores de acetilcolinesterase: este grupo de medicamentos ajuda no alívio de sintomas da doença de Alzheimer, mesmo que por tempo limitado. Está indicada em doentes com a doença em fase inicial a moderada. Este medicamento atua sobre a enzima acetilcolinesterase (inibindo-a), pois esta é responsável pela destruição de um neurotransmissor importante (acetilcolina).
- Memantina: atua num neurotransmissor chamado glutamato. O glutamato está presente, em concentrações elevadas, nos doentes com Alzheimer. A Memantina tem a função de bloquear o glutamato. É indicado para os estadios da doença mais graves.
Vários novos medicamentos estão actualmente em estudo e ensaios para serem colocados no mercado de forma segura. A investigação nesta área é promissora falando-se mesmo de uma vacina contra a doença.
Outros medicamentos podem ser associados aos anteriormente descritos, com vista à diminuição de sintomas associados à patologia como:
Medicação antipsicótica
Medicação aconselhada em caso de agitação, agressividade, delírios ou alucinações.
Muitos destes medicamentos têm efeitos secundários marcados (exemplo: aumento de risco para o AVC) pelo que deve ser sempre avaliado o benefício da administração do medicamento.
Medicação para ansiedade
Medicação para diminuir os níveis de ansiedade que podem ser indutores (a ansiedade) de ataques de pânico e medo irracional.
Estes medicamentos devem ser utilizados com cuidado pois provocam habituação medicamentosa.
Medicação para a depressão
A maior parte dos doentes apresentam sintomas de depressão que deve ser tratada com antidepressivos para melhor aceitação, por parte do doente, do tratamento.
Remédios para dormir
Doentes com o mal de Alzheimer muitas vezes não dormem facilmente e apresentam alterações acentuadas no padrão de sono, o que muitas vezes, está associado a efeitos secundários de outras medicações para a demência (que causa sedação diurna).
Deste modo, deve ser realizada uma estimulação do doente durante o dia para que este consiga dormir de noite, evitando os remédios para dormir. Este medicamento deve ser utilizado como um último recurso.
Remédios naturais
Existem medicamentos naturais mas que a sua eficácia não se encontra comprovada, na doença de Alzheimer, pelo que não costumam ser indicadas pelo médico. É o caso de medicamentos com:
- Gonko biloba (estimulador da circulação);
- Vinpocentina (estimulador da circulação e melhora fluxo sanguíneo);
- Ginseng (planta promotora da energia);
- Açafrão da índia (anti-inflamatório);
- Vitamina E;
- Vitamina B12.
Mas é fundamental que a utilização deste tipo de medicação natural seja feita com cuidado e o médico deve ser informado caso o doente opte por tomar tais medicamentos.
Diagnóstico
Não existe nenhum exame específico para diagnosticar a Doença de Alzheimer. O diagnóstico é feito tendo como base:
- Exame físico e neurológico
- História clínica do doente
- Avaliação neuropsicológica
- Análises sanguíneas (para despiste de outras patologias associadas)
- Tomografia axial computorizada (TAC) ou ressonância magnética que permitam identificar alterações do tecido cerebral
A especialidades médicas mais indicadas para casos de demências é o neurologista ou psiquiatra.
Existem vários testes que podem ser aplicados no despiste da doença. Entre outros, o mais conhecido é o teste do relógio.
Teste do relógio
Consiste em pedir à pessoa que desenhe um relógio em que os ponteiros marquem 11 horas e 10 minutos. Apesar da simplicidade, este teste de Alzheimer consegue determinar em poucos segundos as competências cognitivas de um paciente. Uma vez que é necessário ter percepção visual, coordenação visual e motora, é necessário planear o desenho, recorrer à memória do que foi solicitado, tornando-se tarefa difícil se houver comprometimento cognitivo.
Contudo, investigadores no Japão e Austrália estão a desenvolver uma análise sanguínea (que detecta a proteína toxina associada ao Alzheimer) que poderá, no futuro, ajudar os médicos a detectar quem vai sofrer da doença de Alzheimer.
É possível prevenir o Alzheimer?
Existem estudos recentes que mostram haver a possibilidade de prevenção da doença. Temos como exemplo: estudos que investigam a atuação da proteína P38 ou da glicose no cérebro.
Contudo, apesar de não eliminar por completo a possibilidade de incidência da doença no futuro, existem comportamentos que estão associados a uma menor incidência de casos de doenças como a demência.
Alimentação
Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), no seu estudo referente à alimentação e a doença de Alzheimer (2015) recomenda, para a prevenção da doença, a adoção de um padrão alimentar saudável com:
- Um consumo diário de fruta e hortícolas, ricos em antioxidantes, em que este grupo de alimentos deve ter o papel central na dieta;
- Diminuição do consumo de gorduras saturadas e aumento das gorduras insaturadas (como por exemplo através da diminuição do consumo de carnes vermelhas e processadas);
- O aumento do consumo semanal de peixe (no qual deverão estar incluídos os peixes gordos);
- O aumento de frutos oleaginosos e de óleos vegetais (azeite);
- A inclusão de leguminosas e cereais;
- A moderação do consumo de álcool.
Desta forma, a adoção de um padrão alimentar como a dieta mediterrânea é uma opção recomendada.
No caso de uso de multivitamínicos escolher aqueles que não contenham ferro ou cobre e apenas utilizar suplementos de ferro quanto prescritos pelo médico.
Embora o papel do alumínio na doença de Alzheimer permaneça em investigação aqueles que desejam podem minimizar a sua exposição.
O consumo de café, chá e de outras fontes de cafeína: pode ter um papel protetor contra o declínio cognitivo, doença de Alzheimer e demência, sendo esta eventual proteção mais evidente em mulheres do que em homens.
No entanto, esta associação não tem sido encontrada para todos os domínios cognitivos faltando ainda estabelecer a relação entre a dose e o efeito. Como tal, recomenda-se um consumo moderado de cafeína. 1 expresso = 80mg. O consumo diário não deve exceder 400mg.
O consumo moderado de bebidas alcoólicas, sobretudo de vinho, parece estar associado a uma diminuição do risco de aparecimento de doença Alzheimer. Contudo não existem ensaios clínicos randomizados para avaliar esta associação e seus efeitos pelo que, a recomendação para iniciar o consumo moderado de álcool em quem não consome regularmente, não tem suporte científico.
Assim sendo, para quem já tem por hábito consumir bebidas alcoólicas, recomenda-se que continuem a consumir com moderação (entre uma a três porções/dia), sendo que, o ideal seria duas porções para homens e uma para mulheres por dia). Ou seja, 1 porção de álcool = 150ml de vinho ou 1 cerveja ou 30ml de bebidas destiladas.
Também estudos referidos por Patrick Holford (2013), indicam que a ingestão de álcool (1 a 2 copos de vinho por dia) pode proteger o cérebro de demências e acidentes vasculares cerebrais (AVC) assim como reduz os níveis de stress (que, quando instalado de forma prolongada danifica o cérebro).
Saiba mais sobre AVC: o que é, causas, sintomas e tratamentos
Contudo, salienta-se que o consumo de álcool e cafeína pode ser benéfico na doença de Alzheimer mas não indicado em outras situações patológicas (aumentando o risco para as mesmas), pelo que deve ser avaliado o benefício do consumo das mesmas substâncias.
Por outro lado, a sua ingestão deve ser feita com precaução pois a ingestão de álcool em excesso pode ter um efeito contrário e levar à demência.
Praticar exercícios físicos regulares
Segundo a Direção Geral de Saúde (DGS), deve ser incluído exercício aeróbico na rotina, o equivalente a 40 minutos de caminhada rápida, 3 vezes por semana.
Reduzir o stress
Muitas pessoas têm vidas sociais e profissionais altamente stressantes. É importante que arranjem forma de controlar os níveis de stress como por exemplo:
- Aprender a meditar;
- “Desabafar” com um amigo ou familiar as suas ansiedades;
- É de extrema importância a socialização com outras pessoas;
- Manter o controlo do dia, gerindo adequadamente horários e atividades de forma a não aumentar stress;
Praticar exercício físico como por exemplo, Ioga ou Tai chi.
Teste de Alzheimer precoce
Como já referido, o cérebro deve ser estimulado e mantido activo para se manter saudável. Por isso é importante que o indivíduo tenha uma vida intelectualmente estimulante.
Existem vários testes rápidos para detecção da doença, mesmo na ausência de sintomas. A vantagem deste estudo é um diagnóstico precoce e antecipar o tratamento, quando se verificam indícios da doença. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado maior eficácia terá, contribuindo para um maior controlo da doença mental.
Possíveis causas do Alzheimer
Não se conhece ao certo as causas do Alzheimer, mas parece resultar da combinação de um conjunto de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida que, ao longo da vida, vão afetando a saúde do cérebro.
Muitos investigadores indicam a doença como degenerativa que se desenvolve, em grande parte, devido às consequências a longo prazo de uma má nutrição e da exposição a outros fatores como as doenças cardiovasculares (Patrick Hordford, 2013).
Vários estudos de investigação têm surgindo sobre as alterações químicas que provocam danos nas células cerebrais, contudo, ainda se desconhece o motivo pela qual uma pessoa desenvolve a doença mental.
Estão a ser investigadas várias causas possíveis para a doença, incluindo fatores ambientais, processos imunológicos ou bioquímicos. As causas podem variar de pessoa para pessoa e pode estar relacionado com um ou mais factores.
Quais são os principais fatores de risco do Alzheimer?
Idade e género
Qualquer pessoa adulta pode desenvolver demência, contudo, e como já vimos, é mais comum no idoso após os 65 anos e a sua taxa de prevalência vai aumentado com a idade.
Estima-se que depois dos 50 anos, se verifique um aumento de número de casos entre 1% a 7% por cada ano. A faixa etária entre os 65 e os 85 anos a prevalência da doença passe de 3% para quase 50%. Contudo, a partir dos 85 anos a demência tem taxas de incidência semelhantes para ambos os géneros.
A taxa de prevalência é superior nas mulheres, possivelmente relacionado com a maior longevidade das mulheres em relação aos homens.
Estilo de vida
Alguns estudos sugerem que o sedentarismo, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes não controlada e níveis elevados de colesterol no sangue, podem aumentar o risco de demência.
Uma alimentação desequilibrada e não saudável, pobre em fruta e vegetais, com carência em nutrientes protectores do cérebro como antioxidantes, ómega-3, carência de Vitaminas E, C do grupo B (entre outros) são factores de risco à doença.
Níveis elevados de stress tem enorme impacto no adequado funcionamento do cérebro, potencializando o risco de doença de Alzheimer.
Hereditariedade/genética
Segundo a APFADA, parece não haver um factor hereditário na doença de Alzheimer esporádica, de início tardio. Contudo, é possível herdar uma ou mais que uma probabilidade de desenvolver a doença. O Apo E14 é o único gene identificado que associado a um aumento ligeiro de risco de desenvolver a doença.
Porém, nem todas as pessoas portadoras deste gene desenvolvem a doença mental, levando investigadores a procurar outros factores de risco genéticos e ambientais que tornem o desenvolvimento da doença provável.
Até à presente data, o único factor de risco evidente para o desenvolvimento de doença de Alzheimer parece ser a existência prévia de um traumatismo craniano severo.
Traumatismos cranianos
Traumatismo craniano grave ou traumatismos cranianos repetidos podem estar associados à doença.
Interacção social
A falta de interacção social parece estar associado à doença.
Atividade profissional
Existe uma provável associação entre a atividade profissional e escolaridade com a doença.
Ou seja, indivíduos com um grau de escolaridade mais elevado ou com um trabalho intelectualmente mais estimulante, que promova o raciocínio, parecem ser menos afetados pela doença.
Historia de défice cognitivo ligeiro (DCL)
Indivíduos com défice cognitivo ligeiro ou leve têm uma tendência aumentada para a doença de Alzheimer.
O DCL é uma doença cognitiva. Não afeta a capacidade para manter uma vida independente mas é um processo de declínio cognitivo mais grave do que o que caracteriza o envelhecimento normal, pelo que é considerado um período de transição entre o envelhecimento normal e a demência.
Contudo, estudos indicam que apesar de haver maior propensão à demência, tal pode nunca ocorrer.
Em indivíduos com problemas de memória ou outras limitações intelectuais ligeiras mais acentuadas, do que esperadas, na sua faixa etária também parece haver uma maior probabilidade de doença de Alzheimer.
Como ajudar uma pessoa com demência
Conselhos úteis aos familiares e cuidadores de doentes com Alzheimer
É fundamental que os familiares e cuidadores tenham conhecimento sobre a doença de Alzheimer para que possam estar preparados para saber lidar com a doença e prestar os melhores cuidados.
É importante que mantenham uma comunicação aberta com os diferentes profissionais de saúde e prestadores de cuidados para que questões que vão surgindo sejam abertamente respondidas.
Existem em Portugal a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes com Alzheimer. Entidades como esta são um ponto de apoio para a família, cuidador e profissionais de saúde, para a partilha de conhecimentos e ideias e formação.
Deixamos algumas sugestões:
Como evitar acidentes no doente com Alzheimer?
- Remover o excesso de mobílias da casa;
- Retirar tapetes ou colocar protecções anti-derrapantes;
- Colocar corrimão nas escadas;
- Na casa de banho, colocar tapetes antiderrapantes e pegas na parede;
- Adequar a banheira com tapetes antiderrapantes e cadeiras adaptadas;
- Usar calçado confortável e com tração adequada;
- Evitar espelhos em casa pois estes podem desencadear episódios de medo e confusão (pois o doente pode não se reconhecer);
- Não permitir que o doente conduza qualquer tipo de veículo. Uma vez que o doente pode não ter precessão do seu estado de doença é importante que este seja persuadido a não conduzir (ex: simular avaria em carro);
- Identificação do doente. uma vez que este tipo de doença provoca desorientação espacial, o doente pode perder-se. Assim, é importante que tenha sempre com ele um documento identificativo, com telefone de cuidador ou familiar ou mesmo uma pulseira ou fio com estas informações;
- Prevenir vizinhos e amigos da situação de doença para que possam estar atentos e prestar ajuda quando necessário.
Como lidar quando o doente de Alzheimer fica agressivo?
Muitas das alterações comportamentais do doente estão associadas a uma necessidade que não está a ser assegurada, como fome, dor, isolamento. Assegurar que o doente está sempre confortável e em ambiente adequado é muito importante para prevenir comportamentos indesejados.
- Criar um ambiente tranquilo e sem factores de stress, onde o doente tenha uma rotina familiar.
- Tentar falar baixo, não gritar, calmamente e de forma tranquilizadora
- O familiar/cuidador deve compreender que as alterações de comportamento e até momentos de agressividade estão relacionados com a doença e não é um ataque pessoal. Assim, não se deve sentir agredido ou provocado. Castigar ou discutir com um doente de Alzheimer é inútil pois o doente não saberá porque está a ser castigado e somente aumentará o seu grau de irritabilidade e stress.
- No momento da abordagem do doente, esta deve ser feita frontalmente, com movimentos calmos, e explicar o que se vai fazer em frases curtas (Exemplo: vou ajudá-lo a sentar-se melhor)
- A agressividade pode estar associada a algum objecto que o doente pretende ou factores como a fome, dor. Nesse caso, antecipar a necessidade do doente para que este não tenha períodos de agitação
- Quando o doente inicia um comportamento repetitivo (a mesma pergunta, por exemplo) deve ser distraído para outras actividades, como um passeio ou apertar uma bola de esponja com a mão.
- Sempre que possível, o doente deverá manter-se em ambiente familiar pois locais e pessoas desconhecidas aumentam o nível de confusão e mesmo agressividade associada ao medo. Deste modo deve ser avaliada as vantagens e desvantagens do lar de idosos e do apoio domiciliário. Dentro dos cuidados domiciliários existem vários serviços tais como cuidados pontuais (como os cuidados de higiene) ou assistência nas 24 horas.
- Quando o doente apresenta comportamento agressivo, pode ser útil o familiar retirar-se do espaço onde se encontra o doente, para que este se consiga acalmar. A reaproximação deve ser calma evitando discussões.
- A comunicação com um doente de Alzheimer deve evitar focar memórias antigas. Por exemplo: em vez de perguntar “Onde vivia?” pode ser perguntado “Qual o local que me aconselha para viver?”. Perguntas de opinião evitam o recurso à memória, tornando a comunicação mais eficaz e positiva.
Como lidar com os problemas que surgem com a alimentação?
Segundo um estudo da DGS (2015) sobre a alimentação no doente com Alzheimer, a desnutrição proteico-energética é frequente na doença de Alzheimer e aumenta com a severidade da doença. Nas pessoas no estádio leve e moderado de Alzheimer, a prevalência de desnutrição ronda os 3%. No estádio severo, chega a atingir os 50% de casos de desnutrição proteico-energética.
Este agravamento do estado nutricional poderá ser devido a perda de apetite, paladar e olfato o que leva à diminuição da ingestão alimentar, negligência nos cuidados com a alimentação e alterações nas preferências alimentares.
Desta forma, deve haver uma adequação alimentar à situação de cada doente. Por exemplo:
- Doente com falta de apetite: oferecer comida em períodos regulares e no mesmo horário. Estimular prática do exercício físico. Oferecer alimentos simples como gelados, batidos, iogurtes. As refeições devem ser tranquilas e em ambiente calmo. Avaliar com o médico a necessidade de suplementação ou reforço vitamínico.
- Doente com excesso de apetite: ter sempre disponíveis snacks como cenouras, barras proteicas ou maçãs ao alcance do doente.
- Dificuldade com utilização de utensílios como os talheres: preparar refeições mais simples ou que o doente possa comer com a mão. Iluminar bem o local da refeição e proporcionar uma refeição calma e tranquila. Os familiares devem comer com o doente, em movimentos lentos. Os pratos, talheres e toalha de mesa devem ter cores distintas, para serem de fácil identificação.
- Em caso de dificuldade na deglutição ou mastigação optar por alimentos mais pastosas como purés, sopas, batidos.
Uma vez que a doença está associada ao envelhecimento, devem ser despistadas outras situações que possam estar a influenciar de forma negativa a alimentação, como por exemplo o estado e adequação da prótese dentária ou o estado da dentição.
Outras formas de ajudar uma pessoa com demência
Estabelecer uma rotina: um ambiente tranquilo, organizado, e rotineiro trás segurança ao doente com Alzheimer. O dia deve respeitar rotinas de actividades e horários e as actividades simplificadas.
- Adequar a forma de comunicação: falar de forma tranquila, calma e num tom baixo. Utilizar frases curtas e simples e, se necessário, repeti-las várias vezes. A comunicação deverá ser feita em frente do doente e com o doente a olhar para quem está a falar.
- Estimular a mente e corpo: pretende-se que o doente mantenha, dentro das suas possibilidades, a sua autonomia, pelo que o cuidador deve acompanhar, supervisionar e ajudar quando estritamente necessário. Tal, desenvolve no doente uma sensação de autoconfiança. Deve ser estimulada a locomoção, o autocuidado, a realização de pequenas tarefas, o exercício físico, entre outros.
- Manter um ambiente seguro: com o objectivo de prevenir acidentes como quedas, os tapetes devem ser retirados, assim como objectos perigosos. À noite deve haver sempre uma luz indirecta acesa para que o doente se oriente. A porta da rua deve estar sempre trancada e as chaves de casa (e carro) colocadas num local desconhecido pelo doente. O doente deve sair de casa sempre com identificação. (telefone, identificação e morada).
- A alimentação deve ser equilibrada e variada, um momento calmo e em horas rotineiras. A dieta deve estar adequada a cada doente e suas dificuldades.
- Atenção especial à pele: o idoso tem uma pele frágil. Em doentes de Alzheimer, a imobilização pode conduzir a feridas cutâneas, por pressão ou fricção (úlceras de pressão ou escaras), em particular em zonas como os calcanhares e/ou região sacrococcígea. A pele deve ser hidratada e ingestão de liquidos é fundamental para uma boa manutenção da pele.
Saiba mais sobre úlcera de pressão (Escaras): Causas, sintomas e tratamento
Quando fazer interdição de uma pessoa com Alzheimer?
Um dos grandes problemas da doença de Alzheimer é a incapacidade de raciocínio e discernimento. O doente não consegue compreender a consequência dos seus actos e não mostra capacidade de compreensão. Uma vez que apresenta lapsos de memória, dificuldade na comunicação e compreensão de informação são, por questões de segurança para si próprios e para os outros, considerados “incapazes” socialmente.
Esta interdição determina que o doente de Alzheimer não possa exercer, por si só, actos sociais, necessitando de ser representado por outra pessoa determinada por tribunal. É o caso de venda de imóveis ou viaturas, movimentação de bens existentes no banco, entre outras situações.
Estes casos de interdição implica que o doente já não consegue tomar decisões sozinho pois pode ser enganado por terceiros. O papel de um representante é de proteger e defender os direitos do doente.
O doente com Alzheimer deverá ficar interdito de conduzir pois a incapacidade de se manter atento e gerir a informação é limitada . Por vezes, o doente não tem noção das suas limitações e fica relutante a abandonar a condução (assim como a gestão das finanças pessoais e familiares).
Caso o doente seja relutante a abandonar a condução devem ser adotadas estratégias alternativas (Ex: simular uma avaria no carro) de forma a diminuir o risco que a condução de um veículo representa para o doente e para os outros.
O doente com alzheimer deve deixar de fumar, beber café ou beber álcool?
O doente não deverá fumar sozinho pois existe o risco de provocar acidentalmente um incêndio. O álcool deve ser restringido pois o doente pode perder a noção da quantidade que ingere pelo deve ser sempre supervisionado pela família ou por um cuidador.
Por outro lado, como o doente faz medicação pode estar contra-indicado a ingestão de álcool. Contudo, se não houver contra-indicações medicamentosas, pode ingerir álcool, de forma controlada e em conjunto com alimentos (numa refeição, por exemplo).
No que se refere ao café, uma vez que é um estimulante, está contra-indicado em caso de agitação, alterações do sono ou medicação.
Como adaptar a casa na fase avançada da doença?
As necessidades dos doentes com Alzheimer vão variando consoante a evolução da doença. Se numa fase inicial necessita somente de supervisão e estimulação, numa fase mais avançada de doença necessita de diferente tipo de serviços e apoio onde se inclui a adequação da casa e em particular, do quarto e casa de banho.
O quarto deverá ser um ambiente tranquilo, arejado e limpo onde constem equipamentos adequados às necessidades do doente, como uma cama articulada com colchão anti-escaras e poltrona de conforto, para que o doente possa relaxar e evitar estar muito tempo na cama.
Para diminuir o risco de quedas, a cama deve ser regulável em altura e, cada vez que o doente fica sozinho, a cama deve ficar o mais baixo possível na sua altura em relação ao chão. Podem ser colocados colchões ou almofadas em redor da cama para minimizar impacto de queda caso o doente tenha um período de desorientação ou agitação.
A casa de banho deverá estar preparada com cadeira para a banheira, alteador de sanita ou cadeira sanitária. Nas paredes poderão ser colocadas barras de apoio para facilitar a movimentação e equilíbrio.
Conclusão
A doença de Alzheimer é actualmente incurável e, como tal, todas as intervenções pretendem a preservação das habilidades cognitivas o maior tempo possível, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida do doente, familiares e amigos.
Tratamentos medicamentosos e não medicamentosos (como o exercício físico, fisioterapia, estimulação cognitiva, uma alimentação e hidratação adequada, entre outros) trabalham em conjunto para retardar os sinais e sintomas da doença.
Sendo uma doença que afeta mundialmente milhares de pessoas, e que tende a aumentar com o número de casos nos anos vindouros, vários estudos científicos estão a ser desenvolvidos na tentativa de um diagnóstico mais preciso e precoce e de um tratamento efetivo para a doença, assim como na sua prevenção.
Estudos de investigação e ensaios estão a ser desenvolvidos actualmente em várias vertentes, pelo que se espera novas formas de tratar, prevenir e diagnosticar o Alzheimer num futuro breve.
Por agora, a sensibilização para a doença, despiste de sinais e sintomas para um diagnóstico mais precoce e assumir hábitos de vida saudáveis preventivos de doenças como a demência, surgem como a forma mais adequada para prevenir a doença.
É importante que familiares e cuidadores dos doentes de Alzheimer estejam devidamente informados sobre a doença, de modo a compreenderem as suas diferentes formas de manifestações enquadrando os melhores cuidados de saúde e bem-estar, em articulação com uma equipa de saúde multidisciplinar.
Referências
- Associação Portuguesa de familiares e amigos dos doente de Alzheimer, http://alzheimerportugal.org/pt/text-0-9-30-14-a-doenca-de-alzheimer
- https://www.alzheimers.org.uk/
- Soraia Batista Lopes, Importância de um Programa de Estimulação Cognitiva na Doença de Alzheimer e Dificuldades Sentidas pelos Cuidadores de Idosos – Mestrado em Intervenção para um Envelhecimento Ativo, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, 2017.
- Direção-Geral da saúde, Nutrição e a doença de Alzheimer
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.