Ter um estoma é uma situação que acarreta consigo muito estigma e trauma.
Em Portugal, estima-se que existam cerca de 20 mil pessoas que são ostomizadas. Destas, cerca de 80 a 90 % são também afetadas por cancro nos órgãos do aparelho digestivo, respiratório ou urinário.
No caso da colostomia, um dos fatores de grande angústia e trauma para os doentes é a possibilidade de existirem odores que possam incomodar as outras pessoas.
O impacto desta intervenção cirúrgica, que produz um orifício para o exterior, na zona da barriga, para eliminar as fezes, vai mais longe do que a questão médica. O paciente tem que se adaptar a uma alteração do seu corpo, quer em termos de funcionamento, quer em termos de aspeto.
Este procedimento obriga a pessoa a fazer grandes transformações pessoais e a uma imensa adaptação a uma realidade diferente, com impacto acentuado na sua autoimagem, autoestima e qualidade de vida.
Nos casos de cancro, o paciente tem que se adaptar não só ao impacto da doença, mas também às consequências da colostomia.
A colocação do saco e todos os cuidados a ele associados, ou outras situações podem causar muito stress, excedendo a capacidade de adaptação das pessoas.
Saiba mais sobre a colostomia, para que serve e como pode ser feita a recuperação neste artigo. Ora veja!
O que é a colostomia?
A colostomia é um processo cirúrgico pelo qual é feita uma ligação direta do intestino grosso à barriga, facilitando a saída de fezes para um saco, porque o intestino deixa de estar ligado ao ânus. A abertura feita na barriga é designada por estoma.
Este procedimento cirúrgico pode ser temporário ou definitivo e resulta na maior parte dos casos depois do tratamento de problemas no intestino, como o cancro, por exemplo.
Quando a criação do estoma é temporária, o seu principal objetivo é facilitar a cicatrização do intestino depois de uma cirurgia.
Quando é permanente, resulta da remoção de uma grande parte do intestino, o que impossibilita a sua ligação ao ânus de uma forma irreversível. Neste caso, o estoma tem que ser mantido para toda a vida.
A colostomia pode ocorrer em diferentes partes do intestino, estabelecendo diferentes tipos:
Colostomia ascendente
Quando a cirurgia é realizada sobre na parte inicial do intestino grosso e as fezes têm uma consistência líquida.
Colostomia descendente
Afeta a parte final do intestino e as fezes têm uma consistência normal.
Colostomia transversa
Quando o orifício é feito na parte intermédia do intestino e as fezes são semilíquidas.
Depois da cirurgia, o estoma pode ficar ligeiramente inchado e vermelho, como se fosse uma ferida, mas à medida que vai sendo feito o acompanhamento e o cuidado, estes sintomas vão melhorando.
Para que serve?
A colostomia serve para desviar a saída das fezes pelo ânus, sempre que por causa de uma doença, como cancro, úlceras ou pólipos, o intestino, reto e ânus, não podem funcionar ou têm que ser retirados.
A colostomia está indicada para tratar diversas doenças como:
- A abertura do ânus está bloqueada ou ausente
- Existência de infeções graves no intestino
- Existência de doença inflamatória intestinal
- Existência de lesões no intestino ou no reto
- Bloqueio intestinal parcial ou total
- Cancro do cólon ou do reto
- Feridas entre a zona genital e o ânus
- Após cirurgias ao intestino
- Quando o intestino precisa de recuperar depois de ferimentos ou infeções
Quando ocorrem alterações no intestino grosso que impedem a eliminação das fezes de forma natural, o médico geralmente aconselha a colostomia.
Saco de colostomia
O saco para colheita das fezes deve ser discreto, confortável e seguro. Existem dois tipos de saco:
Sistema com uma peça
Contém um saco auto-aderente que se junta à pele. Quando é necessário retirar todo o sistema é retirado.
Sistema com duas peças
Contém um saco e uma placa que protege a pele. Neste caso, o saco pode ser retirado separadamente. A proteção da pele pode ser mantida entre 3 a 5 dias, desde que convenientemente limpa.
Os sacos podem também ser usados de forma permanente ou temporária.
Situações em que a utilização é feita permanentemente:
- Amputação do reto
- Tumores malignos e avançados no esfíncter
- Incontinência fecal irreversível
- Trauma acentuado do reto
- Extração de pólipos em todo o intestino grosso e reto
Situações em que a utilização é feita temporariamente:
- Irritação do tecido que reveste a parede interna do intestino
- Trauma
- Tratamento paliativo de cancro do cólon e reto
- Descompressão intestinal quando há obstrução
- Controle de feridas no intestino ou no reto
Como funciona a bolsa de colostomia?
A bolsa ou saco tem a função de recolher as fezes e encaixa na parte de fora do estoma. O seu funcionamento exige uma série de precauções e medidas de higiene:
- É importante manter o saco sempre limpo, devendo o seu interior ser lavado com água.
- A base da bolsa deve ser trocada sempre que começar a descolar, ou quando as fezes invadem a base.
- A base deve estar inserida de forma correta para evitar cheiros ou derrames.
- Quando se procede à troca de bolsa deve-se ter em atenção alguns fatores:
- Retirar a bolsa de forma lenta, descolando suavemente para não magoar.
- Limpar o estoma e a pele em volta com um pano macio ligeiramente molhado em água morna.
- Secar muito bem a pele à volta do estoma para ajudar a nova bolsa a aderir melhor.
- Cortar um orifício do mesmo tamanho do estoma na bolsa que vai substituir a que foi usada.
- Colocar a bolsa nova no local de forma correta.
A bolsa que foi substituída deve ser colocada no lixo e o seu conteúdo deve ser depositado na sanita, para evitar o desenvolvimento de infeções.
Água morna pode ser usada para ajudar a descolar mais facilmente a bolsa do estoma e não devem ser utilizados cremes ou outros produtos na pele sem aconselhamento médico.
Caso seja uma bolsa reutilizável, esta deve ser limpa e desinfetada de acordo com as instruções do fabricante.
Cuidados a ter com a pele
A pele do estoma e à sua volta é extremamente sensível e por isso é necessário ter alguns cuidados especiais:
- Deve ser usada água morna e gel de banho com PH neutro para limpar a área
- Quando tomar banho ou duche pode retirar o saco, se este for mantido deverá ser tapado
- A pele que fica debaixo do saco deve ser muito bem seca
- Substâncias agressivas, álcool ou perfumes devem ser evitados
- Não devem ser usados cremes gordurosos na zona
Se o estoma apresentar alterações, sangrar ou não funcionar normalmente na eliminação das fezes, deve consultar o médico.
Cuidados com a alimentação
Como a colostomia é um processo que afeta o intestino, os cuidados com a alimentação são muito importantes. É necessário ter em atenção os alimentos que podem causar transtornos intestinais como prisão de ventre, diarreia ou gases.
Uma estratégia a seguir, pode ser, ir experimentando diversos alimentos em pequenas quantidades para perceber quais os efeitos que têm na parte do intestino que ainda está a funcionar normalmente.
Geralmente os pacientes podem continuar a ter uma alimentação normal ou idêntica à que tinham antes da intervenção, tendo apenas que fazer alguns ajustes. Não é aconselhável ficar muito tempo sem comer, por exemplo, para ajudar o estoma a funcionar regularmente.
Algumas das estratégias a seguir para evitar alguns inconvenientes:
- A alimentação deve ser equilibrada
- Deve beber 1 a 2 litros de água por dia e não consumir bebidas com gás ou álcool
- Os alimentos devem ser mastigados de forma lenta
- Alimentos novos devem ser introduzidos em pequenas quantidades e de forma progressiva
- Devem ser ingeridos alimentos que ajudam a regular o trânsito intestinal, mas com supervisão médica
- De forma a evitar a prisão de ventre devem ser ingeridos alimentos integrais e beber muita água
- Para evitar a diarreia devem ser comidos frutas e legumes cozidos
- Para combater a formação de gases deve evitar-se o consumo de refrigerantes, cebola, feijão, repolho, brócolos, ervilhas, entre outros
- Para controlar o odor das fezes deve ingerir-se espinafres, alface, salsa e iogurte, entre outros
- Temperos fortes e fruta mais ácida podem irritar o estoma
Quais são as complicações da colostomia?
A retirada de uma parte do intestino ou do reto pode trazer complicações muito diversas, existindo muitos fatores que podem interferir com o estoma e o seu funcionamento.
O local onde o estoma é feito na barriga, a situação clínica do paciente e a sua disposição, são tudo fatores a ter em conta.
A inflamação da pele e a deficiente aderência da bolsa são as complicações mais frequentes. Outras complicações que podem surgir são:
- Infeções no estoma
- Diminuição do orifício do estoma
- Surgimento de hérnia
- Parte do intestino sai para fora
- Sangramento do estoma
- Queda interna do intestino
- Estreitamento do estoma
- Morte dos tecidos do estoma
Como é feita a recuperação da colostomia?
Quando o estoma já não é necessário, sobretudo quando se trata de uma colostomia temporária, tem que se realizar uma cirurgia de recuperação.
Neste processo, a bolsa é retirada e as partes do intestino que estavam separadas são ligadas novamente, sendo reconstruídas, restabelecendo assim o trânsito intestinal.
Esta nova cirurgia é feita no mesmo sítio onde foi feita a colostomia e o paciente está sob efeito de uma anestesia geral.
A parte do intestino que estava ligada ao estoma é unida ao restante intestino através de uma sutura, um procedimento médico que utiliza fios para unir as bordas de uma ferida ou orifício na pele.
Este procedimento pode ser feito de forma manual ou através de um aparelho. No entanto, apresenta também alguns riscos.
Algumas complicações que podem acontecer são:
- Infeção na sutura
- Formação de abcessos na zona onde estava o estoma
- Rompimento da sutura
- Problemas respiratórios
Depois da cirurgia de recuperação são administrados medicamentos para alívio da dor, prevenir infeções e para ajudar ao restabelecimento das funções intestinais.
A alimentação é reintroduzida de forma progressiva e adequada ao processo de recuperação, começando por ser mais líquida, evoluindo depois para uma dieta mais normal.
Podem existir algumas dores nos dias a seguir ao procedimento, estando os exercícios físicos desaconselhados nos meses a seguir à cirurgia de recuperação.
O paciente deverá ter o trânsito intestinal nos 5 dias seguintes, podendo defecar de forma normal, no entanto a recuperação total pode demorar alguns meses.
Conclusão
As consultas de estomaterapia são essenciais no apoio que podem dar aos pacientes que foram submetidos a uma colostomia. Podem ajudar a minimizar o impacto da presença do estoma, ensinando aos pacientes, estratégias para conviver com as alterações biológicas, físicas e psicológicas.
A colostomia tem um enorme impacto físico e emocional no paciente, criados quer pela doença, quer pela presença do estoma.
Esta imposição derivada das circunstâncias vai desencadear profundas transformações pessoais, com alterações no estilo de vida, relações profissionais, relações familiares e sociais, imagem corporal, autoestima e qualidade de vida.
Além dos problemas físicos e repercussões psicológicas, a estrutura de vida do paciente é completamente alterada exigindo um esforço permanente de adaptação à nova realidade.
Situações quotidianas como a forma de vestir, atividades de lazer e as funções corporais sofrem mudanças, por vezes radicais, com uma considerável redução da qualidade de vida do paciente.
Todos estes fatores vão ter um peso considerável na capacidade de recuperação do paciente, porque não é apenas a recuperação física que está em causa.
É fundamental que haja um acompanhamento multidisciplinar à pessoa submetida a uma colostomia para que a sua recuperação seja o mais completa possível.
Juntos Cuidamos Melhor!
A Mais Que Cuidar tem sempre produtos e serviços que dão uma ajuda importante no apoio e no conforto aos doentes que foram submetidos a uma colostomia, facilita cuidados de saúde ao domicílio (apoio domiciliário, fisioterapia, enfermagem) e oferece produtos de apoio para comprar ou alugar.
Os nossos profissionais de saúde e mobilidade estão prontos para encontrar as melhores soluções, seja qual for a sua situação. Temos também ao seu dispor uma linha de apoio de enfermagem 24h/dia 365 dias do ano.
Na Mais que Cuidar encontra ainda o apoio do médico fisiatra através da consulta ao domicílio ou da teleconsulta.
Referências:
- Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados em Estomaterapia
- Associação Portuguesa de Doentes Ostomizados
- Liga de Ostomizados de Portugal
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.