Sabia que a doença de Parkinson é, a seguir ao Alzheimer, a doença neurodegenerativa mais comum? À escala mundial, 7 a 10 milhões de pessoas vivem com a doença. E, em Portugal, há registo de cerca de 20 mil portadores do mal de Parkinson. Só anualmente são identificados mais de 1800 novos casos.
Com o tempo a maioria dos doentes com Parkinson, podem ficar com grande incapacidade e imobilidade. Para alguns doentes devem ser avaliadas as vantagens e desvantagens de um lar de idosos e do serviço de apoio domiciliário.
O Sr. Borges tem 74 anos e há cerca de 3 anos começou a sentir tremor da mão direita em repouso, os músculos rígidos e presos e lentidão de alguns movimentos, sobretudo ao levantar do sofá e da cama e ao andar. Começou a ser estudado pelo seu médico de família, que o encaminhou para o neurologista.
Após alguns meses de estudo, realizou vários exames e avaliação dos sintomas tendo sido diagnosticado o Mal de Parkinson.
Sabe o que é a Doença de Parkinson, os sintomas, as causas e os tratamentos? Ou a diferença entre Parkinsonismo e Mal de Parkinson? Saiba a resposta a estas questões neste guia completo gratuíto que elaboramos para si. Confira!
Doença de Parkinson: o que é?
A doença de Parkinson desenvolve-se quando determinadas células nervosas do cérebro (neurónios) morrem. Estes neurónios produzem a dopamina, uma substância que funciona como um mensageiro químico cerebral nos centros que comandam os movimentos.
A redução dos níveis de dopamina dificulta o controlo da tensão muscular e dos movimentos. Quando 70 a 80% dessas células morrem dão-se manifestações da doença de Parkinson. Não se sabe, porém, por que razão as células morrem e o que leva umas pessoas a desenvolverem a doença e outras não.
A prevalência da doença aumenta com a idade e é mais comum nos homens do que nas mulheres. Apesar de ser rara antes dos 50 anos, em 5% dos casos a doença surge antes dos 40.
Independentemente da idade em que surge, os sintomas são muito semelhantes mas alguns estudos mostram que os doentes jovens, a doença pode evoluir mais lentamente. No entanto pode provocar mais movimentos musculares involuntários e dolorosos.
Por outro lado, jovens com Parkinson tendem a ter menos desequilíbrio e instabilidade. A forma como os jovens lidam com a doença também costuma ser diferente, tanto na família como no trabalho. Ser afetado por uma doença progressiva tão cedo na vida é um enorme desafio não só fisicamente, como também profissional e socialmente.
O Dia Mundial da Doença de Parkinson comemora-se no dia 11 de abril. Nesse dia internacional realizam-se iniciativas pelo mundo inteiro com o objetivo de informar e consciencializar a população mundial para a doença.
Alguns famosos que convivem ou conviveram com esta doença degenerativa e idiopática:
- O ator Michael J. Fox
- O artista espanhol Salvador Dali
- A atriz Katherine Hepburn
- O papa João Paulo II
Parkinsonismo e mal de Parkinson
O Parkinsonismo também chamado de Síndrome Parkinsoniana pode ser definido pela associação de sintomas como a hipertonia muscular (aumento anormal do tónus muscular), tremores involuntários e perda de movimentos. No entanto, mal de Parkinson e Parkinsonismo não são sinónimos mas sim duas doenças diferentes.
Parkinsonismo e Síndrome Parkinsoniana são termos considerados genéricos, pois designam uma série de doenças, com diferentes causas, mas que têm em comum a presença de sintomas característicos da doença de Parkinson, tais como tremores, rigidez e movimentos lentos.
O mal de Parkinson é uma das manifestações do Parkinsonismo e também a mais frequente, com cerca de 75% de incidência de entre todas as outras formas de Parkinsonismo.
Além da definição, também existe diferença entre ambas as doenças em questões do tratamento. Enquanto no mal de Parkinson a Levodopa pode ser utilizada para controlar ou aliviar os sintomas, este medicamento não contribui para o tratamento de alguns casos do Parkinsonismo.
Causas do Parkinsonismo
O Parkinsonismo pode surgir como efeito secundário de medicamentos com a capacidade de alterar a ação da dopamina no cérebro. Os antipsicóticos são um exemplo desses medicamentos que podem provocar este bloqueio da atividade da dopamina, e consequentemente, gerar sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson.
Outras alterações como a asfixia com monóxido de carbono, o envenenamento por metais, doenças degenerativas e o AVC, também podem levar ao aparecimento de sintomas de Parkinsonismo.
AVC: O que é, causas, sintomas e tratamentos [Guia Completo]
Sintomas da Sindrome Parkinsoniana
Tal como na doença de Parkinson, os sintomas do Parkinsonismo incluem:
- Lentidão e dificuldade nos movimentos;
- Rigidez muscular sobretudo na região inferior do corpo;
- Instabilidade postural e problemas de equilíbrio;
- Tremores durante o repouso.
As doenças que podem provocar o Parkinsonismo podem também causar sintomas ou até mesmo variações dos sintomas de Parkinson tais como:
- Sintomas de Parkinsonismo em apenas um lado do corpo;
- Quedas acidentais durante os primeiros meses da doença;
- Movimentos anormais dos olhos;
- Pressão arterial baixa, dificuldade em engolir e obstipação;
- Perda de memória durante o primeiro ano da doença.
- Incapacidade para realizar tarefas simples ou associar objetos e suas funções;
- Alucinações.
Os sintomas normalmente surgem após os 60 anos de idade, quando cerca de 80% dos neurónios responsáveis pela produção da dopamina já foram destruídos.
Diagnóstico do Parkinsonismo
O Parkinsonismo é diagnosticado após uma avaliação médica em que podem ser pedidos vários exames de imagem do cérebro, tais como a ressonância magnética e a TAC. Estes exames podem ajudar a detetar alguma alteração estrutural que pode estar a originar os sintomas.
Nalguns casos em que o diagnóstico não é suficientemente esclarecedor, o médico pode prescrever Levodopa para descartar a presença da doença.
Tratamento do Parkinsonismo
Tendo em conta que o Parkinsonismo tem diversas causas, o tratamento deve ser adequado à doença diagnosticada. Assim, para que o tratamento seja iniciado, é fundamental identificar a causa da doença.
Se a causa do Parkinsonismo for pela ingestão de medicamentos, por exemplo, o médico pode suspender a sua utilização de forma a atingir a cura ou a diminuição dos sintomas.
Em situações em que o medicamento deva ser tomado de forma contínua, o médico pode prescrever outro medicamento com efeito anticolinérgico para aliviar os sintomas do Parkinsonismo.
A terapia ocupacional e a fisioterapia podem ajudar o doente a melhorar a sua mobilidade e independência. Em situações mais avançadas do Parkinsonismo em que existe dependência do doente na realização das suas atividades de vida diária pode ser necessário o serviço de apoio domiciliário.
Parkinson sintomas e sinais
Primeiros sintomas:
Geralmente, a doença de Parkinson começa de forma assintomática e evolui de forma gradual. Os sintomas iniciais são tremores em cerca de dois terços das pessoas e problemas com os movimentos ou uma sensação da diminuição do olfacto na maioria das outras.
Tremor nas mãos, braços ou pernas
A falta de dopamina faz com que os sinais elétricos não sejam transmitidos corretamente de uma célula nervosa para a outra. Assim, os neurónios de outra região do cérebro passam a disparar estímulos indesejados.
Esses estímulos chegam até aos músculos de forma desordenada, provocando tremores que habitualmente apresentam as seguintes características:
- Surgem numa mão enquanto o doente está em repouso (tremor de repouso);
- Incluem o movimento das mãos como se o doente estivesse a enrolar pequenos objetos (semelhante ao movimento de contar dinheiro com os dedos)
- Diminuem quando a mão está em movimento intencional e desaparecem por completo durante o sono;
- Podem piorar com o stress emocional ou fadiga;
- Podem intensificar-se com o tempo, passando para a outra mão, braços e pernas.
- Também podem atingir as mandíbulas, a língua, a testa e as pálpebras.
Em algumas pessoas, o tremor pode nunca desenvolver-se.
Rigidez muscular
Os músculos ficam rígidos dificultando os movimentos. Quando o médico tenta fazer a flexão do antebraço do doente e esticá-lo, o braço resiste ao ser movimentado e, quando isso ocorre, começa e pára, como se fosse uma roda dentada (denominada rigidez da roda dentada).
Lentidão dos movimentos
Os movimentos tornam-se mais lentos e difíceis de serem iniciados e as pessoas tendem a movimentar-se menos. Quando elas se movimentam menos, mover-se torna-se mais difícil porque as articulações ficam rígidas e os músculos enfraquecidos.
Outros sinais e sintomas da doença do mal de Parkinson:
Perda do equilíbrio e postura
A postura torna-se curvada, e é difícil manter o equilíbrio. O doente tende a cair para a frente ou para trás. Tendo em conta que os movimentos são lentos, os doentes normalmente não conseguem mexer as mãos com a rapidez suficiente para amortecer a queda.
Alterações da marcha
O doente vai sentindo dificuldade em andar, principalmente para dar o primeiro passo. Depois de iniciado, o doente geralmente arrasta os pés, dá passos curtos, mantém os braços dobrados na cintura e balança um pouco, ou não balança os braços. Ao andar, tem dificuldade em parar ou virar.
Numa fase avançada do Parkinson, alguns doentes param de andar de repente porque sentem como se os pés estivessem colados ao chão. Outros doentes aceleram os passos de modo involuntário e gradual, e iniciam de forma repentina uma corrida de tropeções para evitar a queda.
Perda dos movimentos automáticos
O doente pode ficar com a capacidade diminuída para realizar movimentos inconscientes como piscar os olhos, sorrir ou balançar os braços ao andar.
Alteração da voz
O doente pode falar baixinho, rapidamente ou hesitar antes de falar. O discurso pode ser mais monótono do que habitual.
Alteração da escrita
A maioria dos doente de Parkinson tem uma escrita tremida ou diminuta (micrografia) por ser difícil começar e manter o traço da caneta.
Distúrbios de sono
A insónia é comum porque normalmente o doente precisa de urinar com frequência ou porque os sintomas pioram durante a noite, dificultando o virar na cama. É comum o desenvolvimento da disfunção do sono associado ao movimento rápido dos olhos (REM). As alterações do sono podem contribuir para o desenvolvimento da depressão e sonolência durante o dia.
Sintomas de Parkinson avançado:
Demência
Cerca de um terço dos doentes de Parkinson desenvolve demência.
Alucinações, paranoia e delírios
Podem surgir principalmente se a demência se desenvolver. O doente pode ver ou ouvir coisas que não existem (alucinações). Estes sintomas são considerados sintomas psicóticos, uma vez que representam a perda de contacto com a realidade. Por outro lado, os sintomas psicóticos fazem parte dos motivos mais comuns para os doentes com Parkinson serem admitidos numa instituição.
Obstipação
O doente de Parkinson pode desenvolver obstipação devido à diminuição da atividade do intestino. Além disso, a inatividade e a levodopa (o principal medicamento usado no tratamento do Parkinson), podem piorar a obstipação.
Perda de olfato
A perda de olfato (anosmia) é comum apesar de a maioria dos doentes não se aperceber.
Fadiga
Muitos doentes de Parkinson sentem fadiga sobretudo no final do dia. A causa nem sempre é conhecida mas poderá estar relacionada com a diminuição dos movimentos e com a rigidez dos músculos.
Dor
Algumas pessoas com a doença de Parkinson sentem dor, numa área específica do corpo ou no corpo todo que pode estar relacionada com a rigidez muscular.
Disfunção sexual
Alguns doentes de Parkinson sentem um diminuição do desejo ou do desempenho sexual.
Alterações da pressão arterial
O doente pode sentir tonturas quando está na posição de pé devido a uma queda repentina da pressão arterial (hipotensão ortostática).
Dermatite seborreica
Desenvolve-se geralmente no couro cabeludo e na face e, às vezes noutras áreas do corpo.
Depressão
A depressão tende a agravar à medida que a doença de Parkinson vai evoluindo. Além disso, a depressão também pode levar ao agravamento da diminuição da mobilidade.
Problemas na bexiga
A doença de Parkinson pode causar problemas ao nível da bexiga como a dificuldade em começar a urinar e continuar (chamada de hesitação urinária). Também pode surgir urgência urinária e incontinência.
Cãibras
Cãibras nos pés podem aparecer durante o andar e dificultar a marcha pois os músculos dos gémeos (barriga da perna) e dos pés ficam com espasmos e curvam o pé em arco, com os dedos dos pés em garra. Em alguns doentes, as cãibras nos pés durante o andar podem constituir os primeiros sintomas da doença.
Mais raro é o aparecimento de cãibras numa ou ambas as mãos, principalmente durante a realização de movimentos finos.
Problemas de deglutição
O doente pode ter dificuldade em engolir (disfagia) à medida que a doença de Parkinson evolui. Pode haver a acumulação de saliva na boca em grande quantidade, que pode escorrer pelo canto da boca levando o doente a babar-se (sialorreia).
Problemas de mastigação e alimentação
A doença de Parkinson numa fase avançada afeta os músculos da boca, dificultando a mastigação. Isso pode provocar pneumonia de aspiração e problemas de má nutrição. Pode ser indicado um aspirador de secreções para ajudar a enfrentar situações de pneumonia de aspiração, sobretudo quando o doente já se encontra acamado.
Causas da doença de Parkinson
A causa da doença de Parkinson é desconhecida, mas vários fatores parecem desempenhar um papel importante, incluindo:
- Fatores genéticos: os investigadores identificaram mutações genéticas específicas que podem causar a doença de Parkinson. No entanto, isso é incomum exceto em casos raros, com muitos membros da família atingidos por esta doença.
- Fatores ambientais: A exposição a certas toxinas ou fatores ambientais pode aumentar o risco de doença de Parkinson, mas o risco é relativamente pequeno.
Além disso, de acordo com uma teoria, a doença de Parkinson pode originar a acumulação anormal de alfa-sinucleína (uma proteína no cérebro que auxilia a comunicação das células nervosas). Esses depósitos, chamados de corpos de Lewy, podem acumular-se em várias regiões do cérebro, principalmente na substância negra (na profundidade do telencéfalo) e interferir na função cerebral.
Os corpos de Lewy geralmente acumulam-se noutras partes do cérebro e do sistema nervoso, sugerindo que podem estar envolvidos noutras doenças. Na demência por corpo de Lewy, a sua formação ocorre na camada externa do cérebro (córtex cerebral).
Os corpos de Lewy também podem estar envolvidos na doença de Alzheimer, possivelmente explicando porque é que cerca de um terço das pessoas com doença de Parkinson apresentam sintomas da demência e porque algumas pessoas com doença de Alzheimer desenvolvem sintomas de mal de Parkinson.
Alzheimer: o que é, sintomas, causas e tratamento
Fatores de risco da doença de Parkinson
Os fatores de risco para a doença de Parkinson incluem:
- Idade: os adultos jovens raramente desenvolvem a doença de Parkinson. Geralmente começa no meio ou no final da vida e o risco aumenta com a idade. As pessoas geralmente desenvolvem a doença por volta dos 60 anos ou mais.
- Hereditariedade: ter um familiar próximo com a doença de Parkinson aumenta as probabilidades de desenvolvimento da doença.
- Sexo: os homens são mais propensos a desenvolver a doença de Parkinson do que mulheres.
Exposição a toxinas: a exposição contínua a herbicidas e pesticidas pode aumentar levemente o risco de doença de Parkinson.
Parkinson e Dopamina
A dopamina é um mensageiro químico (neurotransmissor) responsável pelo controle do movimento, das respostas emocionais e da capacidade de sentir dor e prazer. Em pessoas com Parkinson, as células que produzem dopamina são prejudicadas.
Desta forma, à medida que a doença evolui, mais células cerebrais produtoras de dopamina morrem e o cérebro deixa de produzi-la em quantidades significativas provocando sintomas motores tais como tremores, dificuldade em iniciar o movimento, a bradicinesia (lentidão dos movimentos) e problemas de equilíbrio.
Tratamentos
A doença de Parkinson continua a ser um desafio para os médicos saber como diagnosticar e tratar. O diagnóstico quanto mais cedo for feito, mais rápido se poderá pôr em prática os tratamentos e controlar os sintomas.
No que diz respeito ao tratamento, existem várias medidas e estratégias que podem ser prescritas e recomendadas pelo médico. De seguida apresentamos os tratamentos mais frequentemente utilizados no mal de Parkinson.
Fisioterapia
A fisioterapia para o Parkinson tem um papel importante no tratamento da doença porque proporciona uma melhoria do estado físico geral do doente, tendo como objetivo principal a recuperação ou manutenção da capacidade funcional e incentivar a realização das atividades de vida diária de forma independente, proporcionando assim mais qualidade de vida.
O fisioterapeuta deve atuar o mais cedo possível através de um plano de tratamento que pode ser elaborado pelo médico fisiatra, com os seguintes objetivos:
- Prevenção de quedas;
- Melhoria do equilíbrio, marcha e coordenação;
- Aumento da capacidade pulmonar e resistência física geral;
- Diminuição das limitações funcionais provocadas pela rigidez, lentidão dos movimentos e alterações posturais;
- Manutenção e aumento das amplitudes do movimento prevenindo deformações e contraturas;
- Promover o autocuidado nas atividades de vida diária;
- Ensino e treino de ajudas técnicas e produtos de apoio.
Desta forma, pode ser feita uma avaliação do doente pelo médico fisiatra que pode prescrever os seguintes tipos de exercícios:
- Treino de marcha: para tentar corrigir e melhorar a marcha arrastada através da realização de passadas maiores e aumento dos movimentos do tronco e dos braços.
- Exercícios respiratórios: treino da respiração com utilização do bastão para os braços, utilização da respiração diafragmática e maior controle respiratório.
- Alongamentos: devem ser feitos pelo doente com a ajuda do fisioterapeuta, incluindo alongamentos dos braços, tronco, cintura e pernas.
- Técnicas de relaxamento: habitualmente são realizadas no início das sessões de fisioterapia para diminuir os tremores, a ansiedade e a rigidez.
- Treino do equilíbrio e coordenação: é realizado através de exercícios de sentar e levantar, rodar o tronco nas posições sentada e de pé, inclinação do corpo, agarrar objetos, vestir-se e exercícios com mudanças de direção e em várias velocidades.
- Exercícios ativos e de reforço muscular: podem ser feitos de preferência na posição de pé ou sentado, através de movimentos dos braços e pernas, rotações do tronco com a utilização de elásticos, bolas, pesos leves e bastões.
- Exercícios posturais: podem ser feitos através da extensão do tronco e em frente a um espelho de forma a que o doente tenha mais consciência da postura correta.
- Hidroterapia: os exercícios na água têm muitos benefícios porque ajudam a diminuir a rigidez facilitando o movimento, a marcha e as mudanças de postura.
- Treino de transferência: numa fase mais avançada, pode fazer-se a orientação e treino do doente, da forma correta de movimentar-se na cama, deitar e levantar, passar para uma cadeira e ir à casa de banho.
- Exercícios em grupo: promovem o convívio e a partilha social ajudando a evitar a tristeza, o isolamento e a depressão. A dança e a música são alguns dos exemplos.
- Exercícios de mímica facial: estimular movimentos de abrir e fechar a boca, franzir as sobrancelhas, sorrir, abrir e fechar os olhos, soprar um apito e mastigar bem os alimentos.
Geralmente a fisioterapia será necessária para toda a vida, por isso quanto mais dinâmicas e divertidas as sessões, maior será a dedicação, a vontade e o interesse do doente, e consequentemente, melhores serão os resultados alcançados.
Nutrição
Uma alimentação adequada com vários nutrientes, vitaminas e minerais podem ajudar os doentes de Parkinson a prevenir e melhorar os seus sintomas. Por outro lado, nos doentes com Doença de Parkinson num estadio avançado, pode ser necessário suplementos alimentares prescritos pelo médico ou pelo nutricionista. De seguida, veremos dicas sobre os tipos de alimentos muito úteis no tratamento do Mal de Parkinson.
Antioxidantes
Os antioxidantes têm sido muito utilizados com o objetivo de reduzir os efeitos danosos do processo do stress oxidativo que os doentes normalmente apresentam. Os principais nutrientes antioxidantes são a vitamina E, o flavonoide quercetina, o resveratrol e a curcimina. Eles podem ser encontrados nos seguintes alimentos:
- Vitamina E: óleo de soja, óleo de milho, óleo de girassol, azeite de oliva, nozes, amêndoas, semente de girassol, gérmen de trigo e grãos integrais.
- Quercetina: Frutos vermelhos, alho, maçã e cebola.
- Resveratrol: Cacau, frutos vermelhos, vinho tinto e sumo de uva.
- Curcumina: Acafrão da terra.
Vitaminas do complexo B
Ajudam a melhorar a capacidade motora e cognitiva dos doentes de Parkinson. Como exemplo de alimentos ricos em complexo B temos: abacate, amendoim, castanhas, feijão, gema de ovo, cereais integrais e vegetais verdes escuros.
Minerais
Suplementos de selénio mostraram ter efeito benéfico no aumento das defesas antioxidantes. Como fonte alimentar temos as castanhas, principalmente a castanha do Pará.
Ácido lipóico
Tem efeito antioxidante e podemos encontrá-lo nos brócolos, espinafres, ervilhas e carnes.
Creatina
É um aminoácido que está presente nas proteínas de origem animal como a carne bovina, peixe, frango, porco e ovo. Ajuda na proteção contra a perda de neurónios.
Coenzima Q10
Apresenta proteção extra contra o aparecimento da doença de Parkinson, como medida preventiva e também da redução dos sintomas da doença, além da melhoria do desempenho cognitivo. Como exemplo de alimentos ricos em Coenzima Q10 temos: Frango, peixe, nozes, pistachos, brócolos e espinafres.
Chá verde
O consumo regular de chá verde foi correlacionado positivamente com uma menor incidência da disfunção cognitiva e diminuição do risco de desenvolver Mal de Parkinson.
Cafeína
Ajuda na prevenção da doença de Parkinson pois melhora a proteção dos neurónios contra substâncias tóxicas. O consumo de cafeína deve ser moderado com a recomendação de um café por dia.
Ómega-3
O papel do ómega-3 está relacionado com um efeito de modular as atividades dos neurónios dopaminérgicos remanescentes na Doença de Parkinson, sendo capaz de aumentar os níveis de dopamina no cérebro. Como fonte de ómega-3 temos a sardinha, o atum, o salmão, a chia e a linhaça.
Cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (ECP)
O procedimento cirúrgico com melhores resultados atualmente é a Estimulação Cerebral Profunda, uma cirurgia em que é implantado um dispositivo para emitir impulsos elétricos ao cérebro, diminuindo assim, os sintomas motores da doença de Parkinson.
Os impulsos elétricos são direcionados para as áreas do cérebro que controlam o movimento, de forma a bloquear sinais anormais que produzem sintomas como o tremor.
A Estimulação Cerebral Profunda (ECP) pode ser indicada para pessoas que têm Parkinson há quatro anos ou mais, em que a medicação não está a funcionar bem, ou para aqueles que apresentem efeitos adversos intensos aos remédios. Geralmente a ECP não funciona bem para tratar problemas de equilíbrio, congelamento ao andar, demência ou sintomas não motores.
Medicação
Grande parte dos sintomas de Parkinson são provocados pela falta de dopamina no cérebro. Desta forma, muitos medicamentos têm o objetivo de reproduzir os efeitos desse neurotransmissor, reduzindo o tremor, a rigidez muscular e melhorar a capacidade de coordenação de movimentos.
Esses medicamentos costumam apresentar ótimos resultados conseguindo fazer o controlo de sintomas durante vários anos. No entanto, como o passar do tempo, pode ser necessário ajustar a medicação a até associar novos fármacos para manter os mesmos efeitos.
Assim, é importante que o tratamento com remédios seja regularmente revisto pelo neurologista responsável e para que o doente mantenha a sua qualidade de vida.
Existem diversos medicamentos disponíveis em Portugal que são prescritos habitualmente tais como:
- Medicamentos dopaminérgicos (incluindo levodopa) – uma classe de medicamentos com ação semelhante à dopamina usada para tratar os sintomas da doença de Parkinson.
- Inibidor de decarboxilase – um medicamento usado com levodopa para tratar os sintomas da doença de Parkinson.
- Agonistas de dopamina – uma classe de medicamentos que se une aos receptores de dopamina e imita a sua ação.
- Anticolinérgicos – uma classe de medicamentos que relaxa músculos lisos e é usada primariamente para tratar o tremor na doença de Parkinson.
- Inibidores de MAO-B – uma classe de medicamentos usada para tratar todos os sintomas da doença de Parkinson. Estes medicamentos bloqueiam uma enzima que quebra a dopamina, permitindo que ela permaneça no receptor por mais tempo.
- Inibidores de COMT – uma classe de medicamentos que se une aos receptores da dopamina e imita a sua ação.
Psicologia
Doenças progressivas como o Parkinson, provocam stress ao doente e à família mais próxima. O apoio psicológico é fundamental para a superação dos problemas emocionais.
A doença de Parkinson geralmente é acompanhada de um quadro de depressão, principalmente devido à carência de dopamina no organismo.
Problemas de auto-estima conduzem ao isolamento social e agravam o quadro. Além disso, o cuidador sofre um grande desgaste físico e emocional para dar resposta às necessidades do doente.
A psicologia tem um papel importante no suporte emocional e psicológico ao doente e família.
Terapia da fala
A intervenção da Terapia da fala na doença de Parkinson visa restabelecer as funções da fala, como por exemplo a disfonia e a disartria. Segundo os estudos cerca de 90% dos doentes de Parkinson podem apresentar alterações da fala com alterações ao nível da ressonância, da respiração, da voz e da articulação.
A reabilitação da terapia da fala envolve diferentes técnicas e procedimentos para a coordenação das estruturas na articulação, voz, deglutição e respiração.
Produtos de Apoio
Consoante a fase da doença de Parkinson, existem produtos de apoio ou ajudas técnicas que podem ajudar o doente a melhorar a sua mobilidade, o seu conforto, a sua segurança e o seu bem-estar contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
O médico ou outro profissional de saúde, como o enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional ou o ortoprotésico podem avaliar as necessidades do doente e prescrever ou recomendar produtos de apoio. Apresentamos de seguida, os produtos de apoio mais utilizados na doença de Parkinson.
Andarilhos
À medida que a doença vai progredindo, pode surgir lentidão dos movimentos ou dificuldade em iniciar a marcha por exemplo, provocando limitações em andar. Nesta fase, pode ser útil um andarilho fixo ou um andarilho com rodas, dependendo das capacidades e necessidades do doente.
Cadeiras de rodas
Em situações mais avançadas e graves da doença, pode surgir grandes limitações na marcha. Pode ser indicado a utilização de uma cadeira de rodas para deslocações dentro de casa ou no exterior.
Em casos de imobilidade avançada pode ser ponderada a utilização de uma cadeira de rodas de posicionamento de forma a garantir o melhor conforto e comodidade do doente nas suas deslocações.
Camas articuladas e Colchões
Tendo em conta que alguns doentes apresentam limitações nos movimentos que condicionam a marcha e a mobilidade, a compra ou mesmo aluguer de cama hospitalar articulada elétrica pode ser uma excelente ajuda para facilitar a entrada e saída da cama bem como proporcionar bons momentos de descanso e repouso.
Normalmente, as camas articuladas têm um pendural junto à cabeceira que ajuda o doente a mobilizar-se na cama e adoptar uma posição mais confortável quando é necessário.
O fato de as camas articuladas eléctricas permitirem a regulação da altura do estrado ao chão também é um fator importante para a segurança do doente e para ajudar a evitar quedas ou diminuir as suas consequências. Estas camas normalmente regulam a altura do estrado ao chão entre os 20 e os 80 cm.
Tão importante como a cama, é a escolha de um colchão ortopédico de conforto sobretudo em casos em que o doente tem necessidade de passar muitas horas na cama ou em situações em que existe o risco de desenvolver feridas devido à falta de mobilidade.
Desta forma, o colchão deve ter uma capa impermeável facilmente lavável e é recomendado que tenha espumas de alta qualidade como por exemplo, a espuma de alta resiliência HR 40 ou 50 e a espuma de viscoelástico. Para garantir o melhor conforto e o melhor posicionamento a nossa recomendação é que o colchão tenha pelo menos 15 cm de altura.
Atualmente já existem colchões ortopédicos especiais de alto conforto com cerca de 18 cm de altura, que têm na sua constituição três camadas diferentes de espumas de alta qualidade como o Energex, o viscoelástico e a espuma HR40.
Os colchões ortopédicos especiais também têm características que ajudam na prevenção de úlceras de pressão em doentes com mobilidade reduzida ou que estejam acamados.
Úlcera de Pressão (Escaras): Causas, Sintomas e Tratamento
Adaptação da casa de banho
De forma a facilitar a mobilidade, o conforto e a segurança do doente de Parkinson, podem ser feitas algumas adaptações simples da casa de banho tais como:
- Colocar um alteador de sanita para facilitar o sentar e levantar. Pode ser usado um alteador com apoio de braços ou colocar um quadro de sanita para oferecer mais segurança ao doente quando se levanta ou se senta na sanita.
- Colocar barras de apoio na parede da banheira ou poliban;
- Usar uma cadeira de banho para banheira ou uma cadeira de poliban com apoio de costas e apoio de braços.
Nos doentes com um maior grau de dependência pode ser necessário a utilização de uma cadeira de rodas de banho para os cuidados de higiene no poliban e que também poderá ser usada para urinar ou evacuar na própria cadeira ou na sanita.
Transferências
Em situações de doentes com elevado grau de dependência, poderá ser necessário a utilização de um elevador especial que ajude nas transferências do doente da cama para uma cadeira, ou de uma cadeira para a cama, sobretudo em doentes obesos.
Existem outros produtos que também poderão ser utilizados e facilitar a transferência dos doentes mais dependentes, tais como:
Utensílios especiais para comer
Nos doentes com tremores muito acentuados, pode ser necessário a utilização de talheres especiais nas refeições para manterem a autonomia.
Produtos para controlo da incontinência
Numa fase avançada da doença de Parkinson pode surgir incontinência vesical e fecal pelo que torna-se necessário o uso de fraldas e resguardos para controlo e gestão da incontinência.
Mal de Parkinson tem cura?
Embora ainda não exista cura para o Mal de Parkinson, com o uso de remédios e técnicas de reabilitação é possível controlar os sintomas e também retardar o seu progresso, melhorando significativamente a qualidade de vida dos doentes.
O uso de medicamentos pode ajudar a controlar os sintomas durante vários anos. Porém, como o avanço da doença, estes sintomas ficam mais fortes e respondem menos aos remédios disponíveis, mesmo com dosagens maiores.
Diagnóstico de Parkinson
A Doença de Parkinson é difícil de diagnosticar porque não há nenhum exame específico para a doença. Os sintomas variam de pessoa para pessoa e como vimos anteriormente, existem outras doenças com sintomas semelhantes, o que significa que podem surgir dificuldades para fazer o diagnóstico.
Exames
Em alguns casos, quando necessário, o neurologista pode prescrever a levodopa. Quando os sintomas melhoram com o uso deste medicamento é quase certo o diagnóstico do Parkinson. Caso ainda haja dúvidas se o doente possui a doença de Parkinson ou outro tipo de parkinsonismo, existem dois exames de imagem que auxiliam no diagnóstico: A ultrassonografia transcraniana e a cintigrafia cerebral.
Ultrassonografia Transcraniana
É um exame de ultrassom ao cranio, sem necessidade de contrastes, que mostra a mudança de cor de uma parte do cérebro chamada de substância negra, a região do cérebro que mais produz dopamina.
A modificação da cor corresponde a alterações degenerativas nessa região, ou seja, a perda das células dopaminérgicas e consequentemente redução da dopamina cerebral, um dos mecanismos presentes na doença de Parkinson. Auxilia no diagnóstico quando há dúvidas quanto a síndrome parkinsoniana.
Cintigrafia Cerebral
Neste exame injeta-se uma substância radioativa para identificar a quantidade de dopamina, ou seja, quando está diminuída, o diagnóstico é mais provável. Apesar de não fazer o diagnóstico por si, auxilia quando há dúvidas quanto a doença de Parkinson, juntamente com outros dados da história clínica e do exame neurológico.
Como prevenir a doença de Parkinson?
Apresentamos algumas dicas que podem ajudar na prevenção da doença de Parkinson:
- Estimulação cerebral: tal como os músculos, a mente também precisa de ser estimulada. Ler frequentemente, aprender outro idioma e desafiar o cérebro com tarefas que parecem difíceis como desenhar ou fazer cálculos também são formas interessantes de estimulação.
- Atividade física: para além de ajudar a ter uma boa preparação física, ajuda numa melhor oxigenação do cérebro, deixando-o mais ativo e facilitando a renovação dos neurónios.
- Alimentos antioxidantes: Vimos anteriormente a sua importância no tratamento da doença de Parkinson, no entanto também tem um papel fundamental na prevenção porque fornecem ao organismo substâncias importantes para o equilíbrio do corpo.
- Convívio social: é uma ferramenta importante para manter o cérebro saudável.
- Dormir bem: ter um adequado padrão e higiene do sono ajuda a manter os neurónios saudáveis.
Cuidador para o doente com Parkinson
Como a doença de Parkinson é progressiva, os doentes com o tempo vão precisar de ajuda nas atividades de vida diária. Os cuidadores devem ser orientados de forma a que possam compreender melhor os efeitos físicos e psicológicos do Parkinson para ajudarem o doente a viver da melhor forma possível.
Este tipo de cuidados é bastante exigente, cansativo e stressante pelo que os cuidadores devem ser incentivados a entrar em contacto com grupos de apoio, procurando suporte social e psicológico.
Com o tempo a maioria dos doentes com Mal de Parkinson, podem ficar com grande incapacidade e imobilidade. Podem ser incapazes de comer, mesmo com ajuda. Como a deglutição se torna cada vez mais difícil, existe um grande risco de pneumonia por aspiração. Para alguns doentes devem ser avaliadas as vantagens e desvantagens de um lar de idosos e do serviço de apoio domiciliário.
Conclusão
O acompanhamento e a reabilitação dos doentes de Parkinson deve ser personalizada e ir de encontro às necessidades do doente e de acordo com o estadio da doença. Deve estar envolvida uma equipa multidisciplinar centrada nas necessidades do doente e da sua família.
À medida que a doença vai evoluindo podem surgir novos desafios para o doente e para a família que habitualmente assume o papel de cuidador principal. A mobilidade poderá ficar comprometida o que pode levar a uma dependência cada vez maior na satisfação e realização das atividades de vida diária como os cuidados de higiene pessoal, o vestir, o andar, a alimentação, entre outras.
Nos centros Mais que Cuidar poderá encontrar vários apoios e soluções que podem dar suporte nos cuidados aos doentes de Parkinson em cada fase da doença, no qual destacamos os produtos de apoio na mobilidade e no conforto e os serviços de cuidados de saúde ao domicílio como o apoio domiciliário, a fisioterapia, a terapia da fala e os serviços de enfermagem ao domicilio 24h/dia.
O serviço de aluguer de produtos de apoio e ajudas técnicas também poderá ser importante sempre que surgirem limitações temporárias da mobilidade ou sempre que houver necessidade de testar a adaptação do doente a alguns produtos de apoio como por exemplo, o andarilho ou a cadeira de rodas.
Referências:
- Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson
- Associação Europeia da Doença de Parkinson (EPDA)
- Parkinson Foundation
- Marecican Parkinson Disease Association
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.