De acordo com um estudo publicado no European Heart Journal, a existência de pressão arterial elevada, concretamente a pressão diastólica, antes dos 50 anos, está fortemente associada a danos cerebrais na velhice.
O estudo analisou os dados de 37,041 participantes, recrutados na população geral com idades entre os 40 e os 69 anos, que tinham a sua informação clínica, incluindo ressonâncias magnéticas do cérebro, disponível na base de dados UK Biobank.
A informação sobre os participantes foi recolhida entre 2006 e 2010 e a imagiologia cerebral foi recolhida entre 2014 e 2019. Os investigadores levaram em consideração a idade, sexo e fatores de risco como uso de tabaco e diabetes, bem como as caraterísticas da pressão arterial dos participantes, na análise dos dados.
A investigação, liderada por cientistas da Universidade de Oxford, debruçou-se sobre lesões cerebrais designadas por hiperintensidades da substância branca.
Estas lesões surgem como áreas de cor branca na ressonância magnética e representam o dano causado aos pequenos vasos sanguíneos do cérebro, aumentando em número com o avançar da idade e com a pressão sanguínea.
As hiperintensidades da substância branca estão associadas a um risco elevado de trombose, demência, incapacidades físicas, depressão e declínio cognitivo.
Embora nem todas as pessoas desenvolvam estas lesões à medida que envelhecem, elas estão presentes em mais de 50% dos indivíduos depois dos 65 anos e na maioria das pessoas com mais de 80 anos, mesmo que não tenham tensão alta.
No entanto, a existência de tensão arterial alta aumenta a probabilidade de as lesões aumentarem em número e de serem mais graves.
Os investigadores descobriram que um elevado número de hiperintensidades estavam fortemente associadas a tensão arterial sistólica presente, mas a associação mais forte foi encontrada na tensão arterial diastólica, a pressão sanguínea entre batidas cardíacas, vivida no passado, particularmente a que tinha ocorrido antes dos 50 anos.
Qualquer aumento da pressão arterial, ainda que com valores mínimos, foi associada a um número mais elevado de lesões cerebrais, especialmente nos participantes que usaram medicação para tratar a pressão alta.
O estudo mostrou que a tensão arterial diastólica nas pessoas com 40 e 50 anos está associada a danos cerebrais mais extensos anos mais tarde.
Embora a maioria das pessoas associem a hipertensão e a trombose à velhice, este estudo vem destacar que para se manter o cérebro saudável aos 60 e 70 anos, se deve garantir que a pressão arterial se mantém em níveis saudáveis aos 40 e 50 anos.
Por outro lado, dado que mesmo que pequenos níveis de aumento da pressão sanguínea estão associados ao desenvolvimento de hiperintensidades da substância branca, estas lesões podem acontecer mesmo antes de os pacientes atingirem os critérios para o tratamento da hipertensão.
Neste sentido é necessário manter uma vigilância ativa da pressão arterial, mesmo para níveis pouco acima do normal, logo a partir dos 40 anos. O longo intervalo de tempo entre os efeitos da pressão alta e o desenvolvimento das lesões cerebrais em idade mais avançada, torna essencial que seja dada particular atenção a esta vigilância ativa o mais cedo possível.
Referências:
- Karolina Agnieszka Wartolowska, Alastair John Stewart Webb. Midlife blood pressure is associated with the severity of white matter hyperintensities: analysis of the UK Biobank cohort study. European Heart Journal, 2020; DOI: 10.1093/eurheartj/ehaa756.
- European Society of Cardiology. (2020, November 25). High blood pressure in midlife is linked to increased brain damage in later life. ScienceDaily. Retrieved November 30, 2020.
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