Apesar de ser uma doença pouco conhecida, o linfedema atinge cerca de 15% da população mundial. As pernas são os membros do corpo mais afetados em cerca de 80% dos casos.
Em Portugal, estima-se que o linfedema derivado de alterações genéticas possa afetar entre 1060 a 5300 pessoas. No entanto, a doença que se desenvolve depois de uma cirurgia de remoção de tumores, pode afetar tanto ou mais pessoas de igual forma.
A incapacidade de processar a linfa, o líquido incolor que faz parte da composição do sangue, caraterística da doença, tem um impacto considerável na qualidade de vida dos doentes, criando limitações de mobilidade e incapacidade física.
A prevenção e o cuidado são imprescindíveis para colmatar os efeitos da doença na vida dos doentes.
Saiba mais sobre o linfedema neste guia completo. Tome nota!
O que é o Linfedema?
É uma doença crónica que pode desenvolver-se em qualquer parte do corpo e em qualquer idade. Desencadeia-se devido a uma falha no sistema linfático, que resulta na acumulação de linfa, um líquido incolor responsável pelo transporte dos glóbulos brancos e pela eliminação dos resíduos e impurezas celulares.
A acumulação e a não reabsorção de linfa ocorre nos tecidos moles, especialmente dos braços e das pernas, provocando inchaço acentuado, quando os vasos linfáticos são lesados, removidos ou obstruídos, ocorrendo o linfedema.
Os vasos linfáticos são responsáveis por transportar a linfa para os gânglios linfáticos, que por sua vez têm a função de filtrar os resíduos celulares.
Existem dois tipos de Linfedema:
Linfedema primário
Não tem uma causa externa definida. Pode resultar de fatores genéticos que causam malformações dos vasos ou dos gânglios linfáticos, ou por ausência de vias linfáticas.
Esta expressão da doença é rara e apresenta muitas variações nas idades dos pacientes:
Linfedema congénito: desenvolve-se antes dos 2 anos de idade e resulta de malformações linfáticas.
Doença de Milroy: resulta de mutações no gene recetor-3 do fator de crescimento vascular.
Linfedema precoce: surge entre os 2 e os 35 anos de idade. É mais frequente em adolescentes do género feminino e consiste na diminuição do tecido nos vasos linfáticos.
Doença de Meige: resulta de mutações no gene de fator de transcrição.
Linfedema tardio: surge depois dos 35 anos e pode ter sintomas mais ligeiros, resultando de traumatismos ou inflamação.
Linfedema secundário:
Acontece mais frequentemente do que o linfedema primário e resulta da obstrução ou rutura dos vasos linfáticos.
Ocorre depois de algumas cirurgias, como a mastectomia, ou outro tipo de cirurgia, se estas provocarem lesões nos vasos linfáticos, o que potencia o aparecimento da doença.
Doenças infeciosas, obstruções, tratamentos associados ao cancro como a radioterapia, intervenções cirúrgicas, lesões traumáticas e doenças inflamatórias, podem também contribuir para o desenvolvimento do linfedema.
Qual o tratamento do Linfedema?
Como se trata de uma doença crónica, o tratamento tem como objetivo principal evitar o agravamento e a evolução da doença. A abordagem é individual, tendo em conta a localização, gravidade, existência ou não de doenças associadas e o estado do doente.
A terapia combinada é o tratamento mais utilizado. A terapêutica é efetuada por fases. No início, o doente é educado sobre os cuidados a ter com a pele para minimizar o risco de complicações ou infeções.
A duração do tratamento é variável, mas idealmente deverá começar com sessões diárias, 5 dias por semana, até que a redução do inchaço tenha atingido um nível estável, o que pode demorar entre 3 a 8 semanas.
Depois desta fase, segue-se a fase de manutenção do tratamento, que implica a combinação entre os cuidados de pele, o exercício físico e as opções de tratamento escolhidas.
Assim, a prática de exercício físico regular, elevar as pernas e evitar o excesso de peso são medidas que complementam algumas das opções de tratamento utilizadas:
Linfedema primário:
Cirurgia
É feita a redução cirúrgica dos tecidos moles com remoção de tecido fibroso e gordura subcutânea. Pode também ser feita a reconstrução cirúrgica das vias linfáticas.
Linfedema secundário:
Drenagem linfática manual
É uma técnica de massagem com movimentos constantes, precisos e ritmados, que exercem uma leve pressão com o objetivo de estimular o sistema linfático e acelerar o processo de passagem da linfa para os gânglios. Ajuda a desintoxicar o organismo e a eliminar o líquido acumulado.
Meias ou mangas de compressão
O uso de ligaduras, meias ou mangas de compressão ajudam a melhorar a circulação sanguínea das pernas ou braços, atuando como um sistema de massagem que ajuda o sangue a circular de forma mais eficaz.
Estão mais indicadas na prevenção do agravamento do inchaço e proteção contra eventuais traumatismos. Têm que ser substituídas a cada 3 e 6 meses ou quando perdem a elasticidade.
As meias ou mangas podem ser classificadas de acordo com a pressão que exercem. A classe I, 18-21mmHg é mais utilizada no linfedema dos braços e a classe III, 34-46mmHg é utilizada quando a doença atinge as pernas.
Veja também: meias de compressão e meias de descanso, quais as diferenças
Exercícios físicos
Parte fundamental do tratamento, o exercício contribui para a reabsorção de proteínas e promove a circulação linfática. São recomendados os exercícios aeróbicos, aplicados de acordo com a capacidade do doente. O Tai-Chi ou o Nordic Walking podem também ajudar os doentes.
Enfaixamento
Consiste na aplicação de ligaduras com baixa elasticidade em várias camadas que se sobrepõem e são colocadas sobre um material, ou algodão que protege a pele.
Aumenta a pressão quando há contração muscular e diminui a pressão quando há relaxamento. Conjugado com a drenagem linfática, potencia a absorção do líquido e evita o seu extravasamento.
Compressão pneumática intermitente
Ainda sem eficácia comprovada, esta técnica utiliza ar comprimido através de câmaras pneumáticas dispostas ao longo do membro afetado, para exercer pressões variadas que são ativadas de forma sequencial e geram uma massagem que ajuda a reduzir o inchaço.
Medicamentos
Os fármacos mais utilizados no tratamento da doença são as benzopironas. No entanto, a sua eficácia e o seu sistema de ação não estão ainda, completamente verificados. Pensa-se que podem reduzir o inchaço e reduzir a fibrose associada à patologia.
Cirurgia
Em casos muito excecionais a cirurgia pode ser o tratamento recomendado para remover o excesso de tecido, se este interferir com o movimento ou a qualidade de vida do doente.
Quais os sintomas do Linfedema?
O primeiro sintoma é geralmente o inchaço nos membros inferiores ou superiores, que é ligeiro de manhã e se vai agravando ao longo do dia.
Outros sintomas são:
- Sensação de peso nos braços
- Dificuldade para fazer atividades simples e diárias
- Dificuldade para caminhar
- Dificuldade para calçar os sapatos
- Roupa deixa de ajustar á zona do corpo afetada
- Endurecimento da pele na zona afetada
- Tensão e desconforto
- Limitação de movimentos do membro afetado
- Descoloração da pele
- Dermatite
- Eczema
- Descoloração amarelada das unhas
Como é feito o diagnóstico do Linfedema?
Na grande maioria dos casos o diagnóstico é feito através do historial clínico do doente e pelo exame físico conduzido pelo médico, onde este poderá fazer a medição da área afetada.
No caso dos doentes que não têm fatores de risco associados, ou onde há outras doenças que podem contribuir para os sintomas, é necessário recorrer a exames complementares.
Estes são os exames utilizados para chegar ao diagnóstico:
Ressonância magnética nuclear e Tomografia Computorizada
Usadas para detetar, nos tecidos internos, padrões característicos da doença e tumores.
Eco Doppler
Usado para fazer o diagnóstico diferencial e para excluir a presença de um trombo nas veias da perna.
Linfocintigrafia
É o método mais eficaz para avaliar a funcionalidade e o estado do sistema linfático. Consiste numa injeção de substância radioativa que ajuda a traçar o fluxo da linfa através dos vasos linfáticos.
Linfangiografia
Um contraste é injetado diretamente nos vasos linfáticos. Não é usada tão frequentemente por ser um método mais invasivo e mais difícil de executar tecnicamente.
Ecografia
Usada para pesquisar a existência de parasitas e para despistar outras doenças.
Quais as causas do Linfedema?
A causa principal para o aparecimento desta doença é a incapacidade do sistema linfático para drenar de forma adequada a linfa dos tecidos, o que provoca um inchaço acentuado.
As causas do aparecimento do linfedema primário são genéticas que provocam um número muito reduzido de vasos linfáticos no indivíduo, o que leva à incapacidade de processamento da linfa. Esta doença atinge maioritariamente as pernas.
No caso do linfedema secundário, a causa principal é o bloqueio do sistema linfático, o que leva também à incapacidade de processamento da linfa. O bloqueio pode ser resultado de intervenções cirúrgicas, sobretudo em tratamentos de cancro, onde há também a utilização de radioterapia, que pode contribuir igualmente para o desenvolvimento da doença.
Infeções repetidas contribuem também para o aparecimento do linfedema, embora isto ocorra de forma pouco frequente.
O Linfedema tem cura?
O linfedema é uma doença crónica e não tem cura.
No entanto, um tratamento atempado pode fazer a diferença na qualidade de vida do doente. A utilização de medicamentos para tratar problemas associados à doença ajudam também a evitar o agravamento e complicações.
Linfedema: quais as complicações?
Algumas das complicações que podem ocorrer, desenvolvem-se sobretudo em etapas mais graves da doença.
Complicações podem acontecer quando bactérias viajam de outras áreas para a zona afetada. Por exemplo, quando as bactérias de uma infeção por fungos nos dedos do pé invadem o linfedema existente nas pernas.
O aparecimento de eczemas e úlceras são outras complicações possíveis.
Como prevenir o Linfedema?
As pessoas que correm o risco de desenvolver a doença podem fazer a prevenção, já as pessoas que têm sintomas ligeiros podem adotar algumas práticas que impedem o agravamento.
As medidas de prevenção e mitigação incluem:
- Evitar o uso de roupas apertadas
- Não cruzar as pernas quando sentado
- Evitar esforços
- Evitar atividade física excessiva
- Cuidar da pele e unhas
- A zona afetada deve ser lavada, secada e hidratada
- Evitar andar sem sapatos
- Usar luvas para cozinhar e fazer jardinagem
- O membro afetado não deve levar injeções
- Não usar desodorizante na zona afetada
- Evitar tatuagens na zona afetada
- Evitar zonas com muito calor
- Escolher calçado confortável
- Evitar o stress
Conclusão
O linfedema é uma doença crónica que não tem cura, por isso o diagnóstico precoce é de extrema importância para minimizar possíveis agravamentos ou complicações.
O diagnóstico feito na fase inicial da doença pode facilitar o tratamento e a orientação mais adequados, para evitar a progressão para estados mais graves e limitadores, em que o tratamento pode não ser tão eficaz.
Uma das causas mais comuns do linfedema é o tratamento do cancro da mama, sobretudo se incluir radioterapia. Os seus efeitos têm um considerável impacto nas atividades laborais, físicas e psicológicas do doente.
A educação do doente é também muito importante, no sentido de este aprender sobre os cuidados de higiene mais apropriados a ter com a pele, numa estratégia de prevenção de complicações.
O linfedema é uma doença crónica e progressiva que implica uma limitação funcional e um impacto psicológico negativo no doente, afetando a sua qualidade de vida.
O tratamento tem uma abordagem multidisciplinar, muitas vezes integrado num programa de reabilitação individualizado, tendo em conta as particularidades da doença e do doente, bem como os recursos disponíveis numa perspetiva de terapêutica multifacetada.
Evitar viagens a lugares com muito calor, utilizar roupas confortáveis, ter cuidados especiais com a pele, alimentação saudável e exercício físico adequado são algumas das práticas preventivas aconselhadas para os doentes com fatores de risco, como é o caso dos doentes que foram submetidos a cirurgia.
Embora não tendo cura, o linfedema, se detetado precocemente, com um tratamento adequado e multifacetado, pode ajudar a devolver qualidade de vida aos doentes.
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Referências:
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.