A paraplegia é uma doença debilitante, que afeta sobretudo o sexo masculino, maioritariamente na faixa etária entre os 15 e os 40 anos.
Ocorre devido a uma lesão mais ou menos grave na medula com um impacto muito grande na qualidade de vida dos doentes, que vêm a sua capacidade de movimento muito reduzida ou mesmo inexistente.
Esta doença apresenta um quadro com diminuição ou perda das funções sensitivas e motoras dos segmentos torácicos, lombares ou sacrais da medula espinhal, de forma parcial ou completa.
Cerca de 75% dos indivíduos com uma forma de paraplegia menos grave e parcial, recuperam algumas funções. Sendo que a recuperação ocorre geralmente nos dois primeiros meses após a lesão inicial.
Estima-se que cerca de 80% das lesões da medula são traumáticas, resultando de acidentes de viação, quedas, agressões por armas de fogo, práticas desportivas extremas ou mergulhos dados de forma incorreta.
As lesões são mais frequentemente causadas por flexão, compressão, hiperextensão do pescoço, rotação do corpo ou por movimentos penetrantes.
Descubra o que é a paraplegia e quais os principais tratamentos neste guia completo que elaborámos para si!
O que é Paraplegia?
A paraplegia resulta de uma lesão na medula espinhal que leva à paralisia dos membros inferiores.
As vias motoras e sensitivas são afetadas por um incidente, que pode ser um acidente, uma infeção, ou outro, o que leva à interrupção da comunicação nervosa nestas vias.
Pode ser parcial ou completa e resulta na perda do controlo motor e da sensibilidade dos membros inferiores, que ficam impedidos de receber ou enviar qualquer estímulo nervoso. Na maioria dos casos o controle das funções fisiológicas fica também afetado.
A lesão medular pode ser classificada em paraplegia alta, quando afeta a zona entre as vértebras T1 e T6, ou paraplegia baixa, quando afeta a zona das vértebras T7 a L5.
Quais os tipos de Paraplegia?
Dependendo da zona afetada e da causa a paraplegia pode apresentar-se com diferentes tipos:
Paraplegia Espástica
Decorre quando está presente um aumento anormal do tônus muscular das pernas, o que provoca um aumento de rigidez dos membros inferiores.
Paraplegia Flácida
Os músculos das pernas ficam enfraquecidos, perda da sensibilidade na pele e perda de reflexo nos tendões dos membros inferiores.
Paraplegia Completa
Ocorre quando não se verifica sensibilidade ou movimento nas pernas e não existe qualquer sensação muscular na região sacral inferior.
Paraplegia Incompleta
Existe alguma sensibilidade nos membros, mas a força é diminuta. Existe controlo voluntário dos músculos esfincterianos.
Paraplegia Temporária ou reversível
Ocorre apenas durante um determinado período de tempo e pode ser revertida com alguma intervenção, como quando é causada por uma infeção ou compressão da medula, por exemplo.
Paraplegia Permanente ou irreversível
Quando é resultado de um corte transversal na medula ou resulta de causas congénitas irreversíveis.
Qual o tratamento para a Paraplegia?
O tratamento vai depender do tipo de paraplegia.
No caso das paraplegias reversíveis, a recuperação pode ser parcial ou completa, desde que a intervenção seja feita atempadamente e seja aplicada um conjunto de procedimentos de reabilitação física e recuperação funcional.
Quando a doença é irreversível é necessário evitar complicações e realizar uma reeducação física de adaptação à condição com fisioterapia, por exemplo, e com aprendizagem de manuseamento dos produtos auxiliares à mobilidade, como a cadeira de rodas.
São vários os tratamentos que podem ser aplicados:
Fisioterapia
O tratamento de fisioterapia deve ser adequado ao doente e às suas necessidades, consistindo maioritariamente em exercícios para melhorar a circulação sanguínea e evitar deformidades decorrentes da inatividade dos músculos.
O tratamento com fisioterapia deve ser iniciado o mais cedo possível, dado que o nível de independência funcional do doente vai diminuindo quanto mais tempo decorrer entre a ocorrência da lesão e o início da fisioterapia. Esta atua no sentido de melhorar a capacidade física e aumentar a independência do doente no seu dia a dia.
A fisioterapia permite ao doente potenciar a sua independência, prevenir deformidades e complicações, melhorar a funcionalidade dos músculos, melhorar a capacidade respiratória, facilitar as mudanças de postura, o alívio da dor e a adaptação aos dispositivos de apoio como a cadeira de rodas ou ortóteses.
A fisioterapia apresenta muitos benefícios no processo de reabilitação dos paraplégicos:
- Melhora a funcionalidade motora
- Melhora a confiança do doente
- Ajuda a reduzir a ansiedade do doente
- Favorece a reintegração social do doente
- Evita o aparecimento de doenças ou complicações
- Melhora a aptidão física
- Alivia a dor
- Ajuda a prevenir o aparecimento de úlceras de pressão
- Ajuda a prevenir o aparecimento de deformidades devido à imobilidade
Alguns dos exercícios mais aplicados são os alongamentos, que ajudam a aumentar o tónus muscular e a agilização dos tecidos moles.
Os exercícios de resistência e força muscular ajudam o sistema cardiovascular e servem de prevenção para complicações circulatórias. Os exercícios passivos, por outro lado, ajudam a aumentar a flexibilidade e a capacidade articular.
A fisioterapia respiratória atua na expansão pulmonar e no fortalecimento do diafragma. Podem ser utilizadas outras técnicas como: a desobstrução pulmonar, tosse em três tempos e tosse com sustentação máxima inspiratória, drenagem postural, inspiração profunda com apneia máxima pós-inspiratória, inspiração fracionada e treino de força muscular.
Na fase de reabilitação a fisioterapia foca-se sobretudo em alongamentos, exercícios de fortalecimento dos membros e da musculatura, treino de mobilidade e movimentos corporais como as transferências de peso, equilíbrio, rolar, sentar. Há ainda a acrescentar o treino específico para cadeira de rodas e de marcha.
Outras práticas podem servir de complemento à fisioterapia:
- Realização de movimentos no âmbito da amplitude das pernas e anca
- Realização de movimentos para preservação das articulações
- Uso de meias elásticas
- Realização de exercícios para fomentar a circulação sanguínea
- Prática de musculação para fortalecer músculos dos membros superiores
- Utilização de almofada adequada na cadeira de rodas
Hidroterapia
Ajuda a melhorar a amplitude de movimento, ao treino do equilíbrio e desenvolvimento da musculatura, a água fornece o suporte necessário para aliviar os espasmos musculares, facilitando a mobilização e a realização de alongamentos e treino de força.
Estimulação Elétrica
Facilita a movimentação articular através da contração muscular, promove o fortalecimento do tecido muscular, melhora a função cardiorrespiratória e no desenvolvimento da plasticidade das vias neuronais. Este tipo de tratamento não é consensual.
Hipoterapia
Com a ajuda de cavalos, o equilíbrio do tronco, relaxamento dos músculos, a mobilização das articulações da anca e coluna vertebral e melhoria da postura, podem ser trabalhados.
Órtoteses
Podem ser utilizadas nas articulações das pernas e joelho dando estabilidade.
Prancha ortostática
Promove tanto melhorias físicas como psicológicas, beneficiando a circulação sanguínea, a respiração, o funcionamento dos órgãos, diminuindo os espasmos.
FNP (Facilitação Neuromuscular Propriocetiva)
Permite uma melhor coordenação motora, fortalecimento muscular, flexibilidade e aumento da amplitude de movimento.
Medicamentos
Os medicamentos usados são sobretudo os analgésicos, para alívio da dor e os espasmódicos para controlar os espasmos musculares.
No entanto, muitos dos medicamentos para o tratamento dos espasmos tem limitações de uso, devido à necessidade frequente de doses elevadas ou por causa do aparecimento de efeitos colaterais incapacitantes.
Medicamentos laxantes podem ser usados para ajudar e facilitar o trânsito intestinal.
Massagem
A massagem é utilizada para ajudar na recuperação dos indivíduos e facilitar o relaxamento. Utilizam-se a pressão suave ou mais profunda, com ou sem alongamentos associados, com o objetivo de diminuir a dor, melhorar a circulação local e eliminar toxinas.
A massagem consiste em movimentos suaves e rítmicos, baseados em deslizamentos e amassamentos de toda a massa muscular. O alongamento passivo pode ser utilizado também, mas com cuidado para não alongar completamente o músculo, o que poderia causar contração reflexa.
Tratamento cirúrgico
Os tratamentos podem ser neurocirúrgicos ou ortopédicos.
A neurocirurgia é utilizada para fazer a descompressão da medula espinhal e deve ser efetuada o mais rápido possível, após a lesão, nos casos em que é a forma de tratamento recomendada. Pode também ser feita uma cirurgia para aliviar os espasmos.
Tratamento de ortopedia
Os tratamentos ortopédicos são utilizados para corrigir deformidades e melhorar a função e a estética. Os tratamentos mais comuns implicam a transferência e o alongamento dos tendões, este último com o objetivo de enfraquecer os músculos com espasmos e melhor posicionar as articulações.
A transferência do tendão é aplicada nos músculos que se encontram parcialmente funcionais para que possam produzir movimentos úteis aos paraplégicos.
Crioterapia
A utilização de temperaturas baixas ajuda à execução dos exercícios e alivia os espasmos musculares. Em alternância com temperaturas quentes, que promovem a vasodilatação e o relaxamento muscular, facilitando a circulação sanguínea.
Bloqueios nervosos/musculares periféricos
Este tratamento é usado para os espasmos que ocorrem em grupos de músculos isolados. Os bloqueios nervosos periféricos são feitos com álcool, toxina botulínica ou fenol, no entanto, este tratamento é temporário, apesar de bastante eficaz, tem uma duração de entre 3 a 12 meses.
Cadeira de rodas
A cadeira de rodas tem um papel importante na maximização da locomoção funcional do doente, proporcionando independência e conforto, ajuda o doente a desempenhar as tarefas diárias.
Na Mais que Cuidar pode encontrar todo o tipo de cadeiras de rodas; manuais, de conforto, ou elétricas.
Prevenir úlceras de pressão
Para prevenir as úlceras é fundamental ter um cuidado redobrado na postura do doente, para que não haja o risco de falta de oxigenação e nutrição dos tecidos, devido à compressão, o que leva ao aparecimento das escaras e úlceras.
Padrões de postura adequados favorecem também a estabilidade e a mobilidade do tronco, ajudando a aliviar a compressão e a estagnação.
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Quais as causas da Paraplegia?
A causa principal da paraplegia é uma lesão grave da medula ao nível torácico ou lombar, que impede a chegada dos impulsos nervosos à parte inferior do corpo, pernas e aos pés. A causa para a lesão é que pode ser variada.
Algumas das causas são:
- Acidente de viação
- Doenças infeciosas como a mielite transversa
- AVC
- Tumores
- Fraturas das vértebras
- Lesão por acidente com armas ou explosivos
- Prática de desportos radicais
- Hérnia discal
- Mergulho em águas pouco profundas
- Alterações ósseas
- Intoxicações
- Doença congénita devido a lesões que decorrem no parto
Quais os sinais e sintomas da paraplegia?
Um dos sintomas mais evidentes é a paralisia dos membros inferiores no caso da paraplegia.
A paralisia dos membros pode ser expressa por contração (espástica) ou por flacidez dos músculos, em ambos os casos há uma clara incapacidade de movimentação dos membros inferiores e toda a parte inferior do corpo, associada à falta de sensibilidade, incontinência ou retenção urinária e fecal, com atrofiamento visível dos músculos. Podem também ocorrer espasmos musculares involuntários.
Outros sintomas incluem:
- Dificuldade respiratória
- Disfunção sexual
- Dificuldade para manter determinadas posturas corporais
Como é feito o diagnóstico de paraplegia?
Para fazer o diagnóstico, o médico neurologista verifica a força muscular e a sensibilidade, que são dois sinais da doença.
Para verificar a gravidade da lesão são usados exames complementares como a ressonância magnética e a TAC.
Qual a diferença entre paraplegia e tetraplegia?
Enquanto a paraplegia afeta apenas as pernas, a tetraplegia, também conhecida por quadriplegia, é diagnosticada quando a lesão na medula compromete o movimento dos 4 membros, os braços e as pernas, e o tronco.
E qual a diferença entre paraplegia e paralisia?
A paralisia consiste na ausência de movimentos voluntários ou incapacidade para realizar movimentos em qualquer zona do corpo.
A paraplegia refere-se especificamente à existência de paralisia nos membros inferiores e na parte inferior do corpo.
Paraplegia tem cura?
A paraplegia irreversível que implica o corte da medula não tem cura, no entanto, a paraplegia provocada por infeções ou compressão da medula pode ter cura.
Nas situações de compressão, a recuperação é feita através de cirurgia, que descomprime a zona, permitindo novamente a transmissão de impulsos nervosos.
Nos casos em que não é possível a cura, a fisioterapia tem um papel fundamental, na estimulação sanguínea, para evitar contração das articulações e a formação de escaras.
O paraplégico pode voltar a andar? E pode ter filhos?
A capacidade para voltar a andar vai depender da gravidade da lesão e do impacto dos tratamentos. Mas algumas pessoas podem voltar a andar nos casos menos graves com a ajuda de cirurgia e estimulação elétrica.
Nem todos os paraplégicos sofrem de comprometimento da função sexual depois da lesão, assim alguns podem ter filhos.
Em alguns casos pode ser necessário induzir a ejaculação com tratamentos, no caso dos homens. Nas mulheres, a fertilidade não fica necessariamente comprometida, poderá, no entanto, haver dificuldade para manter a gravidez e levá-la a termo.
Quais as complicações da paraplegia?
Devido à falta de movimento e atividade física algumas complicações podem surgir, na aptidão e saúde geral do paraplégico.
O aparelho urinário é um dos mais afetados, muitos sofrem de incontinência urinária devido à falta de controle da bexiga. Os paraplégicos têm também mais propensão para desenvolver infeções urinárias e pedras no rim. Pode ocorrer também incontinência intestinal.
A função sexual pode sofrer complicações com dificuldades de ereção e ejaculação ou lubrificação.
Outra complicação comum é a dor crónica do nervo e a circulação sanguínea deficiente pode provocar inchaço dos membros inferiores ou coágulos.
Outras complicações que podem surgir:
- Escaras de pressão
- Trombose
- Embolismo pulmonar
- Depressão
- Incontinência da bexiga e intestinos
- Impotência
- Problemas na circulação sanguínea
- Perda de força muscular
- Dor
- Pneumonia
- Dificuldade respiratória
- Tosse
- Hipertensão
- Dores de cabeça
- Frequência cardíaca lenta
- Congestão nasal
- Transpiração intensa
Conclusão
A paraplegia é uma doença incapacitante com um impacto profundo na qualidade de vida dos indivíduos.
Caracterizada por uma lesão na medula espinhal, a doença provoca a paralisia dos membros inferiores e da parte inferior do corpo, levando à incapacidade motora.
Embora a recuperação seja possível nos casos em que a lesão da medula não é irreversível, nos casos irreversíveis, o cuidado e o apoio de serviços e produtos que possam trazer mais conforto, são fundamentais.
Nas lojas Mais que Cuidar encontra serviços na área dos cuidados de saúde domiciliários, como o apoio domiciliário, a fisioterapia e os serviços de enfermagem 24h/dia que podem fazer a diferença na vida dos paraplégicos.
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Referências:
- Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna vertebral
- Associação Salvador
- Associação Portuguesa dos Enfermeiros de Reabilitação
- https://www.news-medical.net/health/Paraplegia-Complications-(Portuguese).aspx
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