O isolamento pode ser tão mortal como fumar ou a obesidade. O isolamento dos idosos pode complicar as condições de saúde existentes, promover um estilo de vida pouco saudável e afetar a cognição.
Os hábitos pouco saudáveis aumentam quando as pessoas idosas estão isoladas. O isolamento social leva frequentemente a maus hábitos de saúde, segundo a Associação Psicológica Americana.
Os idosos solitários são mais propensos a fumar, beber em excesso e negligenciam a necessidade de atividade física. Em contrapartida, o apoio social pode encorajar os idosos a comer bem, a fazer exercício e a viver estilos de vida mais saudáveis.
O isolamento social é entendido como o oposto da integração social ou da falta de interação social e, por conseguinte, representa uma situação em que a pessoa tem apenas poucos confidentes ou um grupo restrito de relacionamentos ou mesmo nenhum relacionamento.
A solidão diferencia-se do isolamento, não significa estar só e isolado, mas sentir-se só, sem apoio e isolado, ou socialmente desconectado.
O isolamento social e a solidão geralmente estão relacionados, mas não necessariamente a mesma coisa, particularmente em idades mais velhas. Os idosos nem sempre se sentem sós apesar de terem eventualmente, uma rede social fortemente reduzida devido à velhice.
A solidão e o isolamento social parecem não depender da idade. Embora os sentimentos frequentes de solidão aumentem apenas ligeiramente com a idade, por outro lado, o isolamento social aumenta substancialmente com a idade.
A proporção de pessoas relativamente isoladas socialmente aumenta constantemente e gradualmente de menos de 4% entre os jovens para 12% entre os idosos.
O isolamento do idoso é comum e perigoso, e embora viver sozinho não conduza inevitavelmente à solidão e ao isolamento, os dois fatores estão frequentemente relacionados no caso dos idosos.
O isolamento dos idosos tem sido uma preocupação, sobretudo, durante a pandemia do coronavírus, de acordo com vários estudos que foram feitos para analisar o impacto do isolamento durante esta fase.
Os efeitos e o impacto do isolamento social nos idosos tende a persistir, mesmo quando não existem restrições ao movimento, por causa de uma situação atípica como a pandemia.
O isolamento dos idosos é um problema frequente que passa muitas vezes despercebido.
Efeitos mais graves do isolamento dos idosos
Um dos primeiros efeitos do isolamento nos idosos parece ser o aumento da ocorrência de hábitos pouco saudáveis, o que tem um impacto direto na saúde.
Alguns idosos não cuidam de si próprios. Na maior parte das vezes, isto reflete-se no acesso a comida, medicamentos ou outras necessidades básicas, podendo também ignorar a sua higiene pessoal. Muitas pessoas idosas praticam a autonegligência.
Autonegligência
Existem muitas formas diferentes de autonegligência. As pessoas podem não manter as suas roupas limpas, não pagar as contas e comer pouco, resultando na maior parte das vezes em desnutrição e desidratação.
As pessoas idosas podem não ir ao médico quando têm possíveis problemas de saúde ou mesmo quando correm risco de vida.
Por outro lado, se vão ao médico, podem recusar o tratamento, não comprar os remédios ou faltar às consultas de acompanhamento. As suas casas podem estar sujas, em mau estado ou infestadas com animais e insetos.
Por vezes a autonegligência pode ter implicações na saúde pública, como por exemplo, quando o comportamento das pessoas idosas aumenta o risco de ocorrência de incêndios.
Distinguir entre a autonegligência e o direito de autonomia e privacidade pode ser muito difícil para os familiares, amigos e profissionais da área de saúde que rodeiam o idoso.
Desta forma, não convém esquecer que os idosos podem fazer escolhas informadas sobre a sua própria vida e isso pode significar decidir viver de uma forma que os outros acham indesejável.
Problemas com a alimentação
Dietas equilibradas são mais difíceis para os idosos isolados. Devido à diminuição do apetite, efeitos secundários da medicação e alterações físicas, os idosos podem ter menos probabilidades de comer refeições saudáveis e equilibradas.
Risco aumentado para o desenvolvimento de doenças
O isolamento aumenta o risco de desenvolver a doença de Alzheimer. Viver sem contacto social é um fator de risco de declínio cognitivo.
Isto pode ser devido ao facto de pessoas idosas isoladas terem menos estimulação cognitiva ou porque os seus sintomas são menos suscetíveis de serem percebidos por terceiros antes de a doença ter progredido.
Níveis mais elevados de stress
O stress está fortemente relacionado com o isolamento. A tensão arterial e os níveis de stress podem ser significativamente mais elevados em pessoas que vivem em isolamento, especialmente os idosos.
Aumento de abuso
O isolamento leva a maiores casos de abuso de idosos. Os idosos isolados são mais propensos a cair nas mãos de vigaristas e de maus-tratos psicológicos, físicos e financeiros.
A negligência para com os idosos, um dos tipos menos falados de maus-tratos a idosos, é mais suscetível de passar despercebido.
Os próprios idosos são menos propensos a denunciar abusos físicos sem um membro da família de confiança e podem proteger os abusadores se não tiverem outros recursos de prestação de cuidados.
Maior pessimismo e negatividade
Os idosos mais isolados assumem, com mais frequência, o pior. Os idosos socialmente isolados têm 60% mais probabilidades de viver uma diminuição da sua qualidade de vida ao longo dos 10 anos subsequentes.
Também estão mais preocupados com a necessidade de ajuda de programas comunitários à medida que envelhecem e são mais propensos a expressar preocupações sobre os efeitos e consequências do envelhecimento.
Idosos mais afetados pelo isolamento
Alguns idosos são mais vulneráveis ao isolamento que outros e os que estão em certas circunstâncias de saúde têm maior probabilidade de ser mais afetados:
Idosos com necessidade de cuidados de saúde preventivos que podem adiar consultas regulares, testes e cirurgias eletivas.
Idosos com mobilidade reduzida que podem perder os benefícios da fisioterapia regular ou sofrer de escaras por diminuição do movimento.
Idosos com rendimentos mais baixos que podem depender de transportes públicos ou que podem depender de cuidados essenciais.
Pessoas idosas com depressão, ansiedade ou outras doenças mentais que podem ficar sem tratamento e sem acesso a ajuda profissional.
Pessoas que cuidam do cônjuge não remuneradas e que têm um descanso limitado das suas funções e têm mais probabilidades de sofrer de stress e problemas de saúde.
Idosos com condições crónicas que podem ter menos apoio na gestão de doenças e adiar mais facilmente visitas médicas.
Pessoas que vivem com demência que necessitam de estimulação cognitiva e sensorial e que beneficiam de ver as pessoas da família e rostos familiares.
Razões porque os idosos são mais propensos ao isolamento
O isolamento dos idosos continua a ser um problema, mesmo sem um distanciamento social obrigatório relacionado com a pandemia.
Para muitos idosos, esta é uma situação que foi causada por situações que vão continuar a existir mesmo quando a pandemia desaparecer.
Muitos idosos, por exemplo, perdem o parceiro de uma vida e entram em isolamento, para outros é apenas o resultado do avanço da idade, em contraste com a juventude, quando tinham um grupo maior de amigos, que, entretanto, deixou de existir.
Eis alguns exemplos de fatores que contribuem para o isolamento dos idosos:
As dinâmicas familiares mudaram
As taxas de divórcio quase duplicaram nos últimos 40 anos e o número de adultos que nunca casaram é cada vez mais elevado.
As taxas de natalidade nacionais também caíram significativamente nas últimas décadas, o que significa que mais pessoas chegam a idades mais avançadas sem filhos.
Todos estes fatores levam a uma diminuição dos laços sociais familiares que muitas vezes impedem a prestação de cuidados entre gerações, onde os mais novos cuidam dos mais velhos.
As mulheres são mais propensas ao isolamento
Existem, em média, percentagens mais elevadas de mulheres mais velhas que nunca casaram ou são viúvas ou divorciadas.
O rendimento médio das mulheres com mais de 65 anos é, em geral, muito mais baixo do que os dos homens.
Esta discrepância financeira torna mais difícil para as mulheres solteiras pagar os cuidados de saúde domiciliários ou o apoio domiciliário mais tarde na vida.
No entanto, mais homens relatam desconforto por estar em isolamento na velhice, enquanto as mulheres parecem suportar melhor envelhecerem sozinhas.
Alterações na vivência comunitária
Muitos idosos escolhem ficar em casa o máximo de tempo possível, frequentemente devido a ligações à sua comunidade, identificada como a principal razão para envelhecer no local habitual onde vivem. No entanto, a dinâmica da comunidade muda com o tempo.
Mudanças nos grupos sociais nos centros urbanos, novas oportunidades de emprego, e um aumento de tempo passado em ambiente urbano, podem trazer alterações na vizinhança com vizinhos mais jovens, o que pode isolar os idosos.
Comunidades ou bairros com um maior número de pessoas idosas podem ser uma boa opção para os idosos que querem manter um ambiente de vizinhança à medida que envelhecem.
Os idosos com escolhas diferentes de percurso de vida como diferentes orientações sexuais ou sociais, são mais suscetíveis de serem socialmente isolados. Em algumas circunstâncias, têm o dobro da probabilidade de viver sozinhos, devido a vários fatores.
Em geral o isolamento afeta mais as pessoas com menos propensão a ter filhos e que são mais frequentemente solteiros ou vivem afastados das suas famílias biológicas.
Alterações nas condições de mobilidade e transportes
Desafios com as questões relacionadas com transporte ou mobilidade levam ao isolamento social. Em alguns lugares o transporte pode ser inacessível ou inadequado, o que dificuldade a mobilidade.
Por outro lado, muitas pessoas perdem a sua capacidade de conduzir à medida que envelhecem, levando a um maior isolamento sem transporte próprio disponível.
Outro fator importante é a redução da capacidade de mobilidade física do idoso, devido a doença ou ao envelhecimento. O que pode trazer situações de isolamento forçado devido às circunstâncias.
Sensação de solidão mesmo com companhia
Mesmo quando vivem com um companheiro ou companheira, os idosos também podem sentir-se sozinhos. Na verdade, não têm de viver sozinhos para se sentirem sós.
Os idosos que vivem sozinhos são tão suscetíveis de se sentirem isolados como os que vivem com alguém.
Os cônjuges que agem como cuidadores dos seus parceiros correm o risco de isolamento emocional, uma vez que muitas vezes não têm tempo para outras atividades ou saídas sociais.
Sensação de incapacidade de acompanhar os tempos
Os idosos podem sentir que estão a ser deixados para trás. As novas tecnologias e estilos de vida podem ser esmagadores para os mais velhos.
As gerações mais velhas são inundadas por tecnologia nova que está sempre a mudar e a inovar.
Este novo mundo tecnológico pode parecer aparentemente inacessível e os idosos podem sentir que não conseguem acompanhar ou que não têm o conhecimento adequado.
Como prevenir e combater o isolamento nos idosos?
Apesar de muitos idosos que vivem sozinhos manterem uma vida social ativa, visitando regularmente centros comunitários e amigos.
Juntando a isso, as interações de rotina na mercearia, autocarro ou a conversa com o carteiro ou outro tipo de prestador de serviço, que possibilitam uma socialização muito necessária.
Existe também uma grande quantidade de idosos que vive em isolamento, sendo sujeitos a vários efeitos que podem ter um grande impacto na sua qualidade de vida.
A verdade é que uma grande maioria de pessoas idosas pode participar em atividades seguras ou socialmente estimulantes com a família e amigos, ajudando a desenvolver uma vida mais ativa e empenhada.
Aprender a combater a solidão e o isolamento dos idosos é um processo que implica diferentes estratégias que passam pela compreensão da importância da socialização e o envolvimento da comunidade mais alargada.
Estas estratégias também podem e devem envolver as famílias e os amigos com atividades que envolvam toada a gente reforçando o sentido de grupo e de pertença. Desde noites de cinema em casa, a artesanato ou pintura, todas as atividades podem ser uma desculpa para socializar.
Atividades que incluem várias gerações são boas estratégias para construir relações. Estas atividades intergeracionais podem oferecer aos idosos um sentido de propósito, bem como uma experiência social muito eficaz.
Para combater o isolamento é essencial fomentar o envolvimento social. É mais difícil ficar isolado quando se tem amigos e vizinhos por perto para atividades, refeições e conversas.
Este compromisso regular de socialização pode melhorar a saúde e o bem-estar dos idosos.
Conclusão
Os seres humanos são criaturas sociais. A nossa ligação aos outros permite-nos sobreviver e prosperar.
No entanto, à medida que envelhecemos, muitas pessoas ficam mais frequentemente isoladas ou pelo menos com maior vulnerabilidade ao isolamento social e à solidão.
Com consequências graves para a saúde, tais como declínio cognitivo, depressão e doenças cardíacas. Mas, é possível atenuar e até contrariar os efeitos do isolamento nos idosos.
Embora viver sozinho não signifique necessariamente estar isolado, existe, sem dúvida, uma certa ligação entre os dois fatores.
Além disso, o isolamento social e também a solidão, não são apenas um problema social, com grande relevância do ponto de vista socioeconómico, mas também é uma questão de saúde importante e um problema grave do ponto de vista da saúde pública.
O isolamento social tem sido associado com consequências adversas para a saúde, incluindo a depressão, má qualidade de sono, função executiva deficiente, declínio cognitivo acelerado, função cardiovascular deficiente e imunidade deficiente em todas as fases da vida.
Para além destes efeitos na saúde, o isolamento social aumenta também o risco de morte prematura.
Ainda assim, o envolvimento das pessoas de idade em grupos comunitários e sociais pode levar a efeitos positivos na saúde mental e reduzir os sentimentos de solidão e a sensação de isolamento.
As estratégias de intervenção apontam o foco para ajudar os idosos a manter o seu sentido de propósito e de pertença, ajudando-os a ligarem-se a grupos e comunidades que sejam significativos para eles.
Uma outra forma de colmatar e atenuar os efeitos do isolamento na vida dos idosos são alternativas de modo de viver como é o caso da coabitação. Com o objetivo principal de melhorar as ligações sociais e diminuir a solidão e o isolamento.
As comunidades de coabitação e as residências de idade mista são intencionalmente construídas para reunir as gerações mais velhas e mais jovens, quer em bairros inteiros dentro de casas unifamiliares, quer em edifícios de apartamentos maiores, onde partilham espaços de refeições, lavandaria e espaços de lazer.
Os vizinhos reúnem-se para festas, jogos, filmes ou outros eventos, e a forma de coabitação facilita a formação de clubes, a organização de cuidados a idosos e a partilha de transporte.
Para alguns psicólogos, estas situações de vida podem também fornecer um antídoto para a solidão, particularmente entre as pessoas idosas. Embora o seu impacto parece ser maior no combate ao isolamento.
Os idosos podem sofrer uma grande marginalização e sentir como se já não fossem membros produtivos da sociedade, o que traz imensos problemas quer a nível de saúde mental, que a nível de saúde em geral.
Para que uma sociedade seja saudável, é necessário encontrar formas de incluir todos os segmentos da população, juntando a isto importa também derrubar mitos e preconceitos sobre a velhice e sobretudo sobre os idosos e o seu papel na sociedade.
Combater o isolamento dos idosos é não só cuidar da saúde publica, mas também ajudar os indivíduos mais velhos a sentirem-se novamente membros importantes e valorizados da sociedade.
Juntos Cuidamos Melhor!
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Nos centros da Mais Que Cuidar tem ainda o apoio do médico fisiatra através da consulta ao domicílio ou da teleconsulta.
Referências:
- Ordem dos Psicólogos Portugueses
- American Psychology Association
- aplaceformom.com
*Atenção: O Blog Mais que Cuidar é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.